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A força das mulheres no empreendedorismo

Elas são 10,3 milhões de donas de pequenos negócios em todo o País e quase metade é responsável pela renda da casa, num movimento de independência e aumento da autoestima
Por Patricia Gonzalez
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Barreiras culturais, preconceitos, dupla jornada e os desafios de montar o próprio negócio. Apesar dos obstáculos, cada vez mais as mulheres enxergam o empreendedorismo como forma de gerar renda, ter sua independência financeira e autonomia sobre suas vidas. De acordo com levantamento do Sebrae com base nos dados mais recentes do IBGE (do terceiro trimestre de 2022) existem 10,3 milhões de mulheres donas de negócio no Brasil, o que representa 34,4% do total de donos de negócios do País. Só no Estado de São Paulo, há 2,47 milhões de mulheres proprietárias de negócios, ou 37% do total no Estado.

Além disso, chama a atenção o número de mulheres donas de negócio que são chefes de domicilio ou contribuem ativamente na renda da família. No fim de 2019 (antes da pandemia), essa era a situação de 47% das empreendedoras no País. Já no terceiro trimestre de 2022, esse número aumentou para 51%.

Os dados refletem a realidade das empreendedoras atendidas no Sebrae em todo o Estado de São Paulo. A gestora estadual do Sebrae Delas, movimento do Sebrae-SP a favor das mulheres na liderança e no empreendedorismo, Camila Ribeiro, aponta que a grande maioria das empreendedoras que procura a instituição é chefe de família e formadora de opinião dentro de sua casa. “Elas estão sempre atentas às oportunidades de mercado e buscam capacitação para minimizar os riscos. O desejo de ter seu próprio dinheiro, autonomia nas decisões, sustentar seus filhos e impactar positivamente a sociedade movimenta os dias dessa empreendedora líder”, ressalta.

A necessidade fez a empresária Bruna Prado , de Pindamonhangaba, começar o seu negócio. Atualmente, ela mantém um bazar de sucesso na sua região movida pela vontade de crescer e aproveitar as oportunidades ao seu redor. A empreendedora deu seus primeiros passos com apenas 17 anos, ao enfrentar dificuldades financeiras com a quebra do negócio da família. Para conseguir manter todas as contas em dia e o sustento da casa, começou vendendo doces e logo teve a ideia de vender roupas de seu acervo pessoal para conseguir dinheiro. “Meu pai gerenciava um negócio que ele ganhou do meu avô. Quando ele quebrou, ficou apenas com o dinheiro da aposentadoria e isso não era suficiente. Num dia a gente tinha dinheiro e vivia bem, no mês seguinte não tinha nada. A gente vendeu casa, carro, e foi morar na casa da minha avó”, relembra.

Na ocasião, Bruna conseguiu negociar todas as suas peças e ficou sem ter o que vender. Então ela começou a acionar pessoas conhecidas que gostariam de vender seus itens, pagando um porcentual para cada um que lhe passasse uma peça. “Fui acionando as pessoas do meu círculo e fui convi dando todo mundo para desapegar. Eu sempre fui boa de vendas, desde pequena. Cheguei a vender limonada na porta de casa por R$ 1 e as pessoas compravam”, diverte-se.

Atualmente, o Bazar Bruna Prado trabalha com uma lista fechada de cerca de 50 marcas de luxo intermediário. As vendas acontecem pelo WhatsApp com peças expostas em redes sociais que podem ser entregues no Brasil todo, além de vendas realizadas para pessoas que vivem no exterior. “Uma peça que na loja custa R$ 500, a cliente consegue no nosso bazar por R$ 100. Trabalhamos com peças únicas e uma oportunidade de preço muito legal. Já tivemos cliente que paga R$ 100 de frete e ainda assim compensava na comparação com o valor de uma peça nova”, explica. As encomendas podem ser retiradas no local ou enviadas pelos Correios.

No ano passado, Bruna ganhou o primeiro lugar na categoria Pequenos Negócios, do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios. E desde o início o Sebrae-SP esteve presente na história da empreendedora. “Comecei a fazer os cursos há cerca de cinco anos e todos me ajudaram muito. Eu não tinha dinheiro, por isso fazia os treinamentos gratuitos”, afirma a empreendedora. “Fiz muitas coisas online, participei de capacitações de finanças, marketing e para desenvolver o mindset. Esses foram os que mais procurava”, conclui.

Agora, com o negócio de vento em popa, Bruna sonha em expandir sua operação e abrir outras lojas na região do Vale do Paraíba.

INDEPENDÊNCIA

A empreendedora Iara Battoni é dona da Janela da Namoradeira, uma doceria pensada para unir doces e arte como forma de presente. A empreendedora é formada em figurino e, após concluir o curso, decidiu voltar para a sua terra natal pois não queria mais seguir a carreira escolhida. Ao chegar à cidade de Amparo, sem saber qual caminho seguir e morando na casa dos pais, teve a ideia de abrir a janela do seu quarto para vender os doces. “Eu queria fazer algo inovador e não tinha ideia do quanto isso era diferente até ser fiscalizada e ver que não se encaixava em nenhum tipo de negócio. ”

Apesar das dificuldades na formalização e enquadramento do seu negócio, ela viu que sua ideia teve uma boa repercussão e decidiu seguir em frente. “Já se passaram dez anos desde então e muitas vezes me questionei se estava no caminho certo. No início era algo simples, mas eu achava muito difícil porque não conhecia. Aí vão aparecendo pessoas para ajudar e isso é muito bacana. A dica para qualquer empreendedora é persistência e acreditar realmente no seu negócio. ”

Iara também foi vencedora do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na categoria MEI e é cliente do Sebrae-SP desde que começou a empreender. “Fui ao Sebrae porque eu tinha na cabeça que a melhor coisa a ser feita seria fechar o meu negócio. Lá foi onde consegui enxergar como minha doceria é inovadora. Eles me fizeram ver o que eu não via. Eu não acreditava. Não é apenas vender, é a forma como se vende.”

A empreendedora ressalta que seu empreendimento é o que lhe garante independência financeira e a capacidade de acreditar. “Sucesso é muito mais do que dinheiro. É você ter realização. Acho muito bonito quando vejo depoimentos de gente que estava perdida, não sabia o que fazer e saiu da depressão para ir atrás do que quer e se sente realizada e feliz.”

Desafios diferentes

De acordo com Camila Ribeiro, gestora estadual do Sebrae Delas, os desafios de empreender para homens e mulheres são diferentes. E isso é causado principalmente por questões culturais. “Até 1962 existiam barreiras na própria lei brasileira, que dava o direito ao marido de impedir a mulher de trabalhar se ele assim desejasse. As barreiras legais caíram, mas ainda enfrentamos as barreiras culturais, que muitas vezes são invisíveis. E elas são colocadas desde a infância, pela nossa educação de maneira inconsciente. Quando a gente escuta que certas atividades são ‘coisa de menino ou não é coisa de menina’, isso vai influenciar o nosso jeito de ver o mundo e as nossas decisões quando adultos.”

Pensando nisso, o Sebrae-SP tem um programa exclusivo auxiliar mulheres que desejam iniciar ou ampliar o seu negócio, o Movimento Sebrae Delas. Além de Camila, a analista de negócios Verônica Lima também é responsável pela gestão estadual das ações e ressalta a importância da capacitação para quem está iniciando ou deseja fazer seu negócio prosperar. “A capacitação fará a mulher mais segura e confiante para tomar suas decisões. É o conhecimento que possibilitará minimizar os riscos do seu próprio negócio não dar certo. E quando adquirimos conhecimento e estamos em rede, fortalecemos nossa identidade e reforçamos nossa potência de transformação”.

Sebrae Delas

O Sebrae Delas é o movimento do Sebrae-SP a favor das mulheres na liderança e no empreendedorismo.

O Sebrae Delas tem o objetivo de promover o empreendedorismo feminino, despertar para o autoconhecimento, possibilitar o aumento de rede de contatos, aumentar a competitividade dos negócios liderados por mulheres e facilitar acesso a mercado e a crédito orientado.

Tudo isso por meio de capacitações sob medida para o seu momento atual. São palestras, oficinas, cursos, rodadas de negócio e eventos onde se adquire conhecimentos técnicos e gerenciais, aprende a desenvolver habilidades socioemocionais e tem acesso a benefícios que vão potencializar o negócio.

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