A área de educação foi uma das que sofreram os impactos mais diretos da pandemia de Covid-19. Não só do ponto de vista pedagógico, com as crianças e adolescentes em aulas remotas e os professores diante de uma mudança tecnológica inédita, mas também do ponto de vista do negócio. Com menos renda dos pais, a inadimplência aumentou, e as escolas privadas viram inúmeras matrículas serem canceladas. Algumas, porém, foram na contramão dessa tendência e conseguiram até crescer durante a pandemia.
Esse foi o caso do Colégio BAL, que conta com três unidades na zona norte de São Paulo, e que registrou crescimento no faturamento na ordem de 40% de 2020 para 2021 e de 30% de 2021 para o ano atual, de acordo com Evanir Lira, gestora do colégio. Os diferenciais, diz ela, foram o planejamento e o investimento em tecnologia que já vinha de anos anteriores. “A gente já utilizava lousas digitais e o Teams para lição de casa, por exemplo. Então precisamos de apenas uma semana de adaptação para definir nossa estratégia pedagógica”, conta.
A escola também procurou logo no início da pandemia fazer lives com os pais e os professores da educação infantil e até mesmo do berçário procuraram manter contato direto com as crianças. “Nossa preocupação não era só financeira, mas também com o vínculo do aluno com os professores, com a continuidade da relação”, afirma Evanir. Isso incluía, também, manter o calendário de comemorações mesmo sem aulas presenciais para a Festa Junina, por exemplo, os pais receberam kits de comidas típicas e de decoração para montar o cenário em casa.
O Colégio BAL hoje conta com 100 funcionários e 580 alunos do berçário até o ensino médio. Entre outros diferenciais, está a oferta de ensino bilíngue desde 2014 e uma forte preocupação em despertar a cultura empreendedora entre os alunos. O programa JEPP (Jovens Empreendedores Primeiros Passos) funciona desde 2011 e o ensino médio técnico tem ênfase em gestão e inovação. “Trabalhamos com o empreendedorismo há 11 anos. Muitos dos nossos alunos nem pensam em fazer uma faculdade, querem criar uma empresa”, diz Evanir.
Apesar do foco em inovação hoje, o Colégio BAL começou como muitas empresas familiares: sem que os empreendedores estivessem preparados. A escola foi adquirida em 2005, mas Evanir lembra que não tinha noção nem de empreendedorismo nem de educação na época. Foi um sonho da mãe, Ana Ferreira, ex-faxineira escolar, que utilizou o dinheiro de uma rescisão trabalhista para comprar a escola – na época apenas de educação infantil e com 40 alunos.
A trajetória empreendedora de Evanir e da família exigiu muitas capacitações e a ideia de um aperfeiçoamento constante, sem sair do planejamento. A empreendedora ressalta que fez o curso Empretec em 2010 e muitas das ideias que colocou no papel naquela ocasião se tornaram realidade uma década depois.
MARCA FORTE
A participação em um grupo de empreendedores da área de educação reunidos pelo Sebrae- -SP também teve uma contribuição decisiva para os resultados do Colégio BAL. “Muito do sucesso da Evanir durante a pandemia se deve ao trabalho que ela começou fazendo lá atrás, no grupo de escolas. A gente falava muito sobre educação online e ela se preparou antes. Detectou que era algo que estava no radar”, aponta a consultora do Sebrae-SP Caroline Minucci.
Na opinião da consultora, o Colégio BAL tem hoje os desafios da gestão familiar e também de fortalecimento de marca. “Esse trabalho é de longo prazo, é água mole em pedra dura, demora para ter efeitos”, aponta. Por isso, ela lembra que o empresário precisa sair um pouco do operacional e pensar de maneira estratégica a respeito de sua marca. “Como todos foram para o online, todo mundo passou a oferecer mais ou menos a mesma coisa. As escolas precisam entender quais os seus diferenciais e saber comunicar isso de forma palpável para o mercado”, afirma Caroline.
Para Evanir, o momento atual de crescimento é comemorado, mas mesmo isso traz novos desafios. “Com o crescimento, minha maior preocupação é com a perda da qualidade. Percebi que os professores estão precisando de mais motivação”, diz. Para isso, ela pensa em mais atividades de integração e também preparação para temas cada vez mais presentes na escola, como inclusão e os efeitos da tecnologia no comportamento dos alunos. “Sou uma gestora muito curiosa. Não tenho formação em pedagogia, mas converso de igual para igual, aprendi muito na prática”, diz.