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Pequenas livrarias voltam a conquistar mercado

Mais próximas do leitor, crescimento foi de 34,5% entre 2020 a maio de 2022; na capital o aumento foi ainda maior: 37,7%
Por Rogério Lagos
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As educadoras Tereza Grimaldi e Julia Souto Araújo trabalharam juntas por muito tempo em escolas de educação infantil em São Paulo. Elas tinham o desejo de ampliar a atuação para outros universos, como um espaço de cultura para as infâncias que fosse atravessado pela literatura, pelas artes e pela educação, com o objetivo de proporcionar diálogos ampliados com essas linguagens e ter uma agenda de eventos que fosse gerida de maneira autônoma. Foi assim que chegaram à ideia de criar a Livraria Miúda, em outubro de 2021, especializada em literatura infantil, no bairro da Pompeia, zona oeste de São Paulo.

“Entendemos que uma livraria é infinitamente maior que a ideia de ‘loja que vende livros’. A importância de uma livraria passa pela mobilização cultural, intelectual e artística de todo um bairro, de toda uma cidade”, comenta Tereza. “Queremos circular literatura, artes, cultura, em toda sua diversidade, sendo um ponto de encontro de leitores e amantes da produção cultural humana”.

As sócias aproveitam a experiência com educação e gestão cultural na proposta que aplicam à livraria, desde a curadoria dos livros até a organização dos eventos. Possuem uma agenda diversa de cursos, bate- -papos, lançamentos, contação de histórias e oficinas criativas que envolvem o contato com múltiplas linguagens. Além disso, aproveitam o espaço acolhedor para receber as crianças e seus pais, contando também com um café com várias opções de comidinhas e bebidas – o que, de quebra, aumenta o tempo de permanência das famílias e o contato com os livros e serviços. “Entendemos que, hoje, o leitor procura o contato, a conversa, o acolhimento, não apenas adquirir um livro”, destaca Tereza.

Com esse propósito bem definido, a Miúda ergue seu alicerce e contribui com o crescimento do número de livrarias ativas em São Paulo. Entre 2020 e maio de 2022, o número saltou de quase 3,6 mil para pouco mais de 4,8 mil no Estado de São Paulo, o que representa um crescimento de 34,5%. Já na capital paulista, o aumento foi de 37,7%, de 1,3 mil para quase 1,8 mil, de acordo com dados do Sebrae-SP, a partir do Mapa de Empresas, do Ministério da Economia.

NICHOS

Mas esse cenário não é exclusivo de São Paulo. De acordo com reportagem publicada em julho pelo jornal norte-americano The New York Times, mais de 300 livrarias independentes surgiram nos Estados Unidos nos últimos dois anos – muitas delas com foco em nichos (como uma dedicada apenas a autores asiáticos-americanos) e em títulos voltados para a diversidade. Enquanto muitas livrarias de grandes redes sofreram com a queda do faturamento durante a pandemia e fecharam as portas, pequenos livreiros sobreviveram e seguem prosperando.

Seguindo essa tendência, o Espaço Sophia é outro bom exemplo moderno que reúne livraria com títulos adultos e infantis, jogos, café e coworking em São Paulo, mas do outro lado da capital paulista, no Jardim Anália Franco, na zona leste. Tudo começou, na verdade, em Avaré, no interior do Estado, em 2011. A empreendedora Thaís Pimentel nunca foi adepta de ir a uma livraria apenas para comprar um livro. Sempre valorizou a experiência de passar os olhos de capas em capas, folhear as páginas e tomar um café. Percebeu que esse modelo de negócio não existia em sua cidade (não havia uma livraria sequer) e resolveu empreender apostando nessa ideia. O negócio deu certo, mas mudanças em sua vida a trouxeram para São Paulo, em 2018, quando começou a obra em um casarão que foi construído pelo seu sogro nos anos 1960. Tudo ficou pronto em setembro de 2019, meses antes do início da pandemia.

“Considero que o negócio começou mesmo, de portas abertas, apenas neste ano, pois foi um desafio trabalhar de portas fechadas durante a pandemia. Fazia delivery, entregava bilhetinhos para os clientes a cada compra para reforçarmos o vínculo, tentando compensar a proximidade que havíamos perdido. Muitas dessas ideias e orientações vieram do Sebrae-SP, que me ajudou bastante neste momento desafiador”, explica Thaís, que já fez diversos cursos de gestão na instituição, inclusive o Empretec logo quando chegou em São Paulo.

Com o avanço da vacinação da população e os números de casos graves de Covid-19 caindo, o Espaço Sophia reabriu as portas e, isso, o propósito de receber o público e propor uma experiência completa também retornou. O local hoje é frequentado por pessoas com objetivos variados, justamente pela oferta diversificada que oferece. Pais com filhos, estudantes, trabalhadores e até mesmo quem quer apreciar um bom café – tudo isso em meio aos livros. O negócio ainda investe bastante em eventos, como lançamentos de obras, autógrafos e contação de histórias e oficinas para os pequenos. “Muitas mães procuram uma programação de férias diferente, fora dos shoppings, por exemplo, e aqui conseguimos oferecer. O segredo para livrarias independentes é pensar em muitos eventos. Hoje o livro é uma consequência. A pessoa vem vivenciar uma experiência e acaba comprando o livro”, diz a empresária.

Na visão de Thaís, essa experiência é a que garante a competitividade das pequenas livrarias perante os grandes magazines e os gigantes online. Apesar de não conseguirem competir no preço, conseguem mais clientes por conta das relações estabelecidas. Para ela, o grande lance do negócio é conhecer o cliente como uma pessoa de verdade: saber seu nome, seus gostos, o nome das crianças e até dos cachorros. “Aqui conseguimos criar um vínculo com nossos clientes. Se amanhã é aniversário de algum que sabemos que gosta de bolo de maçã, a gente já faz pensando nele. Essas pessoas acabam comprando mais caro conosco do que online por essa proximidade. Principalmente após a pandemia, as pessoas estão carentes de carinho e atenção. E nós conseguimos oferecer isso”, destaca.

OLHO NA GESTÃO

A consultora de negócios do Sebrae-SP Juliana Segallio, especialista em marketing, explica que o momento, de fato, proporciona mais mercado para livrarias, já que a pandemia fez com que muitas pessoas criassem ou retomassem o hábito de leitura. No entanto, enfatiza que, como qualquer empresa, as livrarias independentes precisam fazer um planejamento mínimo e se atentar à gestão para que o negócio não se torne um “hobby com custo”.

“Muitos empreendedores são apaixonados por suas ideias, pelo o que fazem, e negligenciam a gestão, o que deixa de ser viável financeiramente. Todo negócio precisa gerar lucro. É necessário lembrar que o empreendimento existe para dar encaixe a uma necessidade de uma fatia específica de mercado, daquela oportunidade que foi encontrada”, explica Juliana.

A especialista enfatiza o fato de que as pequenas livrarias devem apostar nas experiências para se diferenciar dos grandes magazines, mas, para isso, precisam entender para quem estão vendendo, se o público na região onde quer abrir o espaço físico enxerga valor naquilo que você vai oferecer. Outra questão importante está no digital. “Não podemos fechar os olhos para os canais digitais, pois as pessoas acordam com o celular nas mãos. O que o empreendedor cria de conteúdo relevante no online vai ajudar bastante na divulgação das experiências e no relacionamento com o público no ponto físico”, diz.

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