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As donas da chapa

Proprietárias de hamburguerias colhem os resultados de projeto do Sebrae-SP voltado a empreendedoras do segmento
Por Patricia Gonzalez
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A participação feminina no comando de hamburguerias, entre outras atividades de lanchonetes e fast food, vem crescendo nos últimos anos. De dezembro de 2019 até agosto de 2022, o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) mulheres que atuam nesse segmento no Estado de São Paulo passou de 32,7 mil para 47,6 mil, um aumento de 45,7%, segundo dados do Portal do Empreendedor.

Atento ao maior interesse feminino no ramo, o escritório do Sebrae- -SP na zona sul da capital paulista criou um projeto especial para atender 42 donas de hamburguerias da região. A consultora de negócios Helena Andrade explica que a formação de um grupo voltado para mulheres criou a possibilidade de abordar questões específicas trazidas por elas. “Estamos sempre ouvindo o que os nossos clientes precisam e trazendo soluções para facilitar a sua jornada empreendedora. Acreditamos que iniciativas como essa podem encorajar cada vez mais mulheres a tirarem seus sonhos do papel e ver que é possível ser uma empreendedora de sucesso.”

Raquel Ramos, dona da Ramos Hamburgueria, é uma das empresárias que fazem parte do grupo. Ela começou a empreender em 2008 com uma loja para venda de salgados. O negócio não deu certo e, afundada em dívidas, fechou as portas em 2010. “Abri meu negócio sem nenhum apoio, sem acesso à informação. Eu não fazia nenhum tipo de controle. Depois comecei a perceber que estava devendo muito dinheiro. Eu trabalhava, trabalhava e não tinha um real na conta”, relembra.

A experiência negativa fez Raquel desistir da ideia de se tornar empreendedora. Após receber ajuda da família para quitar as dívidas, ela se mudou para outra cidade e arrumou um emprego. “Eu me senti muito envergonhada e humilhada. Fui embora para Brasília e lá trabalhei em um jornal com venda de anúncios. Fiquei assim por dois anos. Precisava restabelecer minha saúde mental. Eu me senti muito estranha, não sei explicar tudo que se passou comigo”, desabafa.

Tempos depois, a vontade de empreender falou falou mais alto e ela abriu uma loja de roupas em Gama, cidade-satélite do Distrito Federal. No entanto, a falta de informação a prejudicou novamente. Após contratar uma contadora para abrir seu CNPJ e ajudar com algumas questões administrativas, ela conheceu outra empreendedora que fazia cursos no Sebrae que a alertou que todas as capacitações e orientações eram gratuitas. “Eu pagava R$ 250 sem nenhuma necessidade; era muito dinheiro para mim na época. E eu me via cometendo os mesmos erros que havia cometido em 2008”, relembra.

O negócio também não deu certo e Raquel estava convencida de que empreender não era para ela. Retornou para São Paulo e conseguiu emprego em uma escola de idiomas. Ficou lá durante sete anos e acreditou que aquele seria o rumo de sua vida. Até que uma mudança de gestão na empresa a abalou emocionalmente. “Tive crises de ansiedade e acabei demitida. Meu marido começou a insistir para que eu abrisse um CNPJ, mas eu não tinha forças para pensar nisso e não queria mais passar vergonha.”

O marido de Raquel tomou a iniciativa de ir até o Sebrae buscar ajuda para abrir o CNPJ e iniciar as primeiras consultorias e orientações. Raquel então participou de diversas capacitações, destacando o Sebrae Delas como uma das mais marcantes. “Ouvi depoimentos de tantas mulheres que não tinham experiência como eu. Elas aprenderam e hoje estão dando muito certo”. Esse foi o incentivo que Raquel precisava.

A Ramos Hamburgueria completou cinco anos e Raquel se divide entre os cuidados com seu negócio e a maternidade. Atualmente ela trabalha apenas com delivery pois decidiu fechar a loja física, no bairro do Capão Redondo, quando sua filha nasceu. O foco principal de seu negócio são os mini-hambúrgueres sob encomenda para eventos e encontros. “Hoje não vendo apenas comida, vendo momentos”, afirma, com muito orgulho.

Depois de participar de diversas capacitações, Raquel foi convidada a entrar no projeto Mulheres no Universo do Hambúrguer junto com outras empreendedoras e destaca que esse é um momento especial de sua trajetória. “Estar com mulheres empreendendo no mesmo setor com certeza faz com que a sintonia dobre. Está sendo de extrema importância para o meu negócio. Aprendo sobre custos, controle. É tudo que eu preciso para mim. Porque agora eu estou fazendo uma boa gestão com a hamburgueria. O Sebrae me ajuda a ver tudo que eu não conseguia enxergar sozinha.”

ACOLHIMENTO

A empreendedora Mariana Brait, dona da Grampa Burger, também migrou para o ramo de hamburguerias em 2018 após decidir encerrar as atividades do pequeno mercado que administrava. Até a chegada da pandemia, o negócio caminhava bem. Porém, precisou fechar as portas e ainda enfrentar a morte do marido, em julho de 2020. Com a ajuda da mãe e da cunhada, ela teve que recomeçar o empreendimento sem dinheiro no caixa.

“Hoje estou conseguindo administrar e ver meu negócio de uma forma melhor. Consigo não estar 100% na operação”, conta.

Mas Mariana percebe que há preconceito com as mulheres no dia a dia do trabalho. “Ser mulher nesse ramo é mais difícil. As pessoas acham que é um mercado masculino e respeitam mais quando tem o homem à frente. E agora temos apenas mulheres. Quando contrato homens eles não querem me ver como chefe. Eles querem me ver como amiga, ainda mais pela minha idade. A maioria das hamburguerias tem homens à frente e é comum chegarem aqui perguntando quem é o dono, e não quem é a dona”, reflete.

Com o apoio recebido por outras mulheres que estão no mesmo ramo, Mariana deseja crescer e faz planos. “Estamos todas (participantes do grupo do Sebrae-SP) na região sul da Capital, mas não nos vemos como concorrentes. Eu me sinto acolhida, vejo que não estou sozinha. Agora eu quero ter mais visibilidade, quem sabe ter loja em outros bairros, sem fugir do que eu sou hoje.”

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