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Cooperados unem forças no campo

Produtores rurais se organizam em cooperativas para produção em conjunto e garantir melhores vendas
Por Gisele Tamamar
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Em busca de alternativas para diminuir os prejuízos, com perdas na produção e negociações malsucedidas, um grupo de produtores de uvas do interior de São Paulo encontrou na criação de uma cooperativa uma forma de unir forças para negociar a produção diretamente e garantir boas vendas. A Cooperativa Agropecuária de Palmeira d’Oeste (Cooapalm) é uma das 1.173 cooperativas agrícolas existentes no Brasil, segundo Anuário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

O ramo agropecuário lidera o ranking com o maior número de cooperativas, seguido de transporte (984 cooperativas), crédito (775), saúde (758), trabalho, produção de bens e serviços (685), consumo (247) e infraestrutura (246). O primeiro colocado registra mais de 1 milhão de cooperados pelo Brasil e emprega mais de 223 mil pessoas.

A Cooapalm foi criada em 2019 e é presidida pela produtora Elenita Bocalon Pires. “Iniciamos timidamente e muitos compradores chegaram a ver a cooperativa como inimiga. Começamos a oferecer nosso produto para firmas maiores, mostrando a qualidade e avançamos ano a ano”, conta Elenita.

Atualmente, a cooperativa vende para grandes compradores e mercados de Rondônia e negocia uma pequena parte da produção para merenda escolar. Para ganhar a confiança e adesão dos produtores, Elenita conta que desde o começo colocava tudo em planilhas e mostrava os números para comparar o retorno da venda via cooperativa com a venda individual.

Outra vantagem da venda conjunta é o pagamento, com dinheiro na conta em 30 dias. “Em alguns casos, o pagamento demorava 100 dias nas vendas por fora. Além disso, ocorriam casos de valores fora do combinado e muitos viram as vantagens de vender via cooperativa, incluindo um limite de crédito maior no banco por conta das comprovações das notas”, conta a presidente da Cooapalm.

Os produtores de Palmeira d’Oeste destinam 30% da produção para a cooperativa e realizam contribuições mensais para a manutenção. “O produtor interessado em entrar para a cooperativa precisa estar ciente do nosso lema: ‘tem que ser bom para todos, temos que lutar por todos’. Não pode ser individualista”, reforça Elenita, que tem o sonho de ampliar a atuação da cooperativa no setor de cítricos com a compra de uma máquina de beneficiamento de frutas cítricas desse tipo.

A consultora do Sebrae-SP Eliana Germano destaca que os produtores rurais enfrentam uma série de dificuldades, como ter pouco poder de barganha e negociação e acesso a grandes mercados. Ao fazer parte de uma cooperativa, o produtor consegue, em conjunto com os demais participantes, atender às necessidades e demandas do mercado, comercializar sua produção e reduzir custos com compras conjuntas de insumos e equipamentos, por exemplo.

“O cooperado consegue melhores resultados reduzindo custo, aumentando a produtividade, tendo crescimento nas vendas e, consequentemente, ampliando a competividade da sua produção”, afirma Eliana. Outros pontos de destaque são o valor agregado por meio de processos de certificação de orgânicos, Indicação Geográfica (IG), participação em Arranjo Produtivo Local (APL) e criação de identidade regional.

Mas o trabalho está longe de ser tranquilo. A consultora do Sebrae- -SP ressalta que as cooperativas ajudam no aumento da eficiência operacional, mas existem muitos desafios. “A gestão da cooperativa é um desafio porque o processo de tomada de decisão é mais complexo e necessita da criação de uma cultura de cooperação”, diz.

Entre as principais barreiras enfrentadas pelas cooperativas, Eliana destaca o gerenciamento ineficiente, quando os membros e os gestores não têm habilidades na gestão técnica, administrativa e de pessoas. A falta de participação e engajamento dos cooperados, a cultura do individualismo e rivalidade também são apontadas como obstáculos. “O processo de gestão e a tomada de decisão podem ser mais lentos, caso não haja entendimento do benefício coletivo”, afirma.

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INOVAÇÃO

Além da atuação conjunta tradicional, a Cooperativa Agrícola do Vale do Ribeira (Cavari) inovou ao oferecer o palmito produzido em uma embalagem diferenciada. Trata-se de uma bag, uma embalagem flexível de 1 kg de palmito picado, que é uma alternativa diante do uso dos potes de vidro e é mais fácil de transportar e armazenar.

“A Cavari atuou diretamente para que a indústria regional produzisse o palmito pupunha em conserva nesta nova embalagem”, destaca Mario Aloisio Martins Bresciani, presidente da diretoria executiva da Cavari, que conta com 53 produtores cooperados.

Bresciani relata que a Cavari foi fundada em 2019 com a proposta de incentivar e promover as compras de insumos produtivos, a venda coletiva dos produtos dos sócios, difundir boas técnicas de produção, promover a policultura e atingir os mercados reservados para a agricultura familiar. Além do palmito, a Cavari também criou novos núcleos produtivos, como a meliponicultura (espécie de abelha) e a bananicultura.

VALE A PENA?

Antes de decidir participar de uma cooperativa, Eliana Germano, do Sebrae-SP, alerta que não basta apenas verificar os benefícios em ser associado. “É importante lembrar que todos são iguais e trabalham para um objetivo em comum, assim, o principal a se analisar é se os objetivos da cooperativa estão alinhados com os seus planejamentos. Em alguns momentos o cooperado tem que abrir mão de um resultado individual em prol da coletividade. É importante avaliar como são feitas as tomadas de decisões da cooperativa, se são comunicadas a todos de maneira transparente e de maneira confiável”, destaca.

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