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Não é só chocolate: Estevan Sartoreli, da Dengo, explica como a marca une sabor e responsabilidade social

“Podemos atuar como agentes de transformação socioambiental”, diz sócio da marca
Por Sebrae-SP
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A Dengo é uma marca de chocolates criada como um negócio de impacto social, alinhada com o conceito ESG, sigla em inglês para ambiental, social e governança. Lançada em 2017 pelo sócio-fundador da Natura, Guilherme Leal, e pelo engenheiro e ex-funcionário da empresa, Estevan Sartoreli, o negócio se destaca por pagar valores acima do mercado para pequenos e médios produtores de cacau de alta qualidade do sul da Bahia.

A Dengo tem como meta dobrar a renda de mais de três mil produtores de cacau no Brasil até 2030, possibilitando que essas pessoas tenham melhores condições de vida. Atualmente, são mais de 160 famílias envolvidas – cuidando de todos os detalhes, do plantio ao produto, mantendo assim o ciclo constante e sustentável. A empresa oferece a cada trabalhador uma consultoria técnica para as melhores práticas de cultivo, com investimentos nesse sentido que superam R$ 3,6 milhões.

Outro foco da empresa é levar ao consumidor um produto com uma quantidade maior de cacau e mais saudável. Atualmente, a marca tem mais de 30 lojas espalhadas pelo Brasil, principalmente em São Paulo, onde o cliente também pode visitar a fábrica, consumir no local, fazer compras e conhecer o processo de fabricação do chocolate, desde a extração do cacau até escolher como produzir sua própria barra.

Na entrevista a seguir, Sartoreli fala um pouco mais sobre os princípios e o modo de operação da Dengo.

A Dengo se coloca como uma marca preocupada com o impacto socioambiental. Como transmitir isso para o consumidor?
A Dengo busca transmitir conceitos e compromissos socioambientais sem ser “ecochata”, professoral ou apontar o dedo. Costumamos dizer que a sustentabilidade é simples – diferente de fácil – e precisa ser leve. O consumidor não se engaja com temas difíceis ou que requerem grandes esforços para mudança. Procuramos comunicar temas distantes da realidade do consumidor, tais como agricultura regenerativa ou sustentável, alimentação saudável e consumo consciente, de uma forma simples e direta ao ponto. Buscamos ainda “desintelectualizar” a sustentabilidade empresarial para viabilizarmos a transição que a sociedade e o planeta demandam.

É possível conciliar os princípios que regem a Dengo com lucro e competitividade no longo prazo?
Sim! Nascemos como negócio de impacto social e acreditamos que o lucro é fundamental para a perenidade dos negócios. É por meio do lucro que podemos atuar como agentes de transformação socioambiental e escalar nossos impactos. Os primeiros anos de um negócio requerem muita dedicação e investimentos. Em 2022, completamos cinco anos de operação e buscamos, mais do que nunca, crescer com rentabilidade. O lucro não é pecado. Um negócio de impacto social busca gerar lucro, equilibrando os pilares socioambientais com o pilar financeiro.

Quais são as concorrentes da Dengo hoje? Como convencer o consumidor a investir mais em um chocolate e deixar de lado as marcas populares?
Os principais concorrentes da Dengo são a alta concentração de açúcar, a gordura hidrogenada e a remuneração injusta de pequenos e médios produtores de cacau. Não acreditamos que a discussão aqui seja abandonar ou não marcas populares, mas transitar para um consumo mais consciente e uma alimentação mais saudável. Na Dengo, procuramos conscientizar nossos consumidores sobre a importância de reduzir o consumo de açúcar – quanto mais cacau o chocolate leva, menos açúcar na formulação – e optar por um chocolate livre de gordura hidrogenada, aromatizantes, conservantes ou químicos desnecessários.

Procuramos conscientizar nossos clientes também da importância de remunerar de forma justa os produtores de cacau, parceiros e colaboradores. Uma cadeia justa e solidária tem um custo, e por sua vez, um preço justo. Não podemos permitir que nosso prazer de consumir chocolate seja às custas da nossa saúde ou da miséria alheia.

Como trazer mais empresas para o modelo de negócio voltado ao propósito ESG?
A forma mais prática é cada negócio aderir um compromisso socioambiental – intencionalidade – à centralidade de seu negócio – corebusiness. Os negócios podem se familiarizar com tais compromissos por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e suas metas ou por se aproximarem do Pacto Global, Sistema B e Capitalismo Consciente Brasil.

Quais os maiores desafios de empreender no Brasil, especialmente com um produto voltado para classes mais altas?
Os desafios são vários. Destaco aqui a complexidade tributária e a burocracia. Este segundo desafio evoluiu, mas ainda com muito campo para melhora. Se de um lado, produtos voltados para classes mais altas podem reduzir o mercado endereçável, por outro lado, tais consumidores possuem maior poder de compra em momentos de crise. Não há mundo perfeito e seguro. Empreender é sobre assumir riscos, ter coragem e ousadia.

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