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‘Lixo zero’ incentiva negócios ecológicos

Tendência de crescimento do setor é motivada pela mudança de hábitos do consumidor e legislação que proíbe fornecimento de utensílios plásticos
Por Gisele Tamamar
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A mudança começa na vida pessoal com mais consciência do consumo e menos geração de resíduos. Em seguida, a vontade de levar as soluções para mais pessoas se traduz em uma oportunidade para empreender. A situação descrita é comum entre os empresários que resolveram investir em negócios com responsabilidade ambiental.

São empreendedores que apostam na venda de canudos de vidro, xampu em barra, talheres de bambu, entre outros produtos que podem ser reutilizados. E sem nada de embalagens plásticas. A tendência é de que esse tipo de negócio siga em crescimento, segundo a consultora do Sebrae-SP Dòrli Martins. Expansão motivada pela mudança de comportamento do consumidor e pelas políticas públicas, como a lei que proíbe os estabelecimentos comercias da cidade de São Paulo de fornecerem utensílios plásticos aos clientes, como copos e talheres.

E é motivada pelas leis de proibição de descartáveis que a empresa B.live espera crescer 25% em 2020 em comparação com o ano anterior. Criada pelas sócias Mariana Lemos e Natalia Konishi, o negócio começou com o investimento de R$ 15 mil e a venda de copos retráteis de silicone, absorventes de pano, canudos de inox e de vidro. Com o passar do tempo, o portfólio cresceu e passou a incluir cosméticos naturais, produtos de limpeza naturais e até roupas orgânicas.

As sócias se conheceram durante a faculdade de engenharia de produção, quando foram apresentadas aos ecoprodutos, como os copos retráteis e os canudos. “Nossa relação com o lixo mudou totalmente e começamos a tomar cada vez mais consciência do nosso consumo e geração de resíduos. Então, decidimos passar essa experiência que tivemos para mais pessoas e criamos o e-commerce para unir cada vez mais soluções para uma vida mais sustentável”, conta Mariana. As vendas deram tão certo que as amigas pediram demissão dos seus empregos meses depois de abrir a empresa, em maio de 2018, para se dedicar às atividades. Atualmente, o modelo de negócio é composto por um e-commerce e revenda para outras empresas, além de fazer projetos especiais e personalizados. As vendas para outras empresas representam 70% do faturamento.

O carro-chefe da B.live é o kit refeição, composto por copo retrátil de silicone, talheres dobráveis, guardanapo de pano, kit de canudo reutilizável e uma nécessaire para carregar os produtos em todas as refeições que for fazer e evitar a utilização de descartáveis.

Na avaliação de Mariana, o público está cada vez mais consciente do seu consumo e geração de lixo, mas o segmento ainda tem muito para crescer. “Enfrentamos muito desafios, e o primeiro deles é a conscientização de pessoas que ainda não conhecem o movimento lixo zero. O outro desafio é que os fornecedores brasileiros ainda não estão tão preparados para um crescimento rápido e alto, e muitas vezes não possuem a tecnologia para a produção”, avaliou.

Quando se fala em consumidor, o brasileiro ainda é classificado como “em transição”, de acordo com dados do Indicador de Consumo Consciente (ICC) da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). A pesquisa mostra que 57,6% dos brasileiros mantêm práticas de consumo consciente, mas em frequência aquém da desejada, enquanto 29,3% podem ser considerados conscientes e 13,1% pouco ou nada conscientes. O estudo aponta ainda que para 75% dos consumidores, produtos fabricados por empresas ‘socialmente responsáveis’ pesam na hora da compra.

DESPERDÍCIO ZERO

Com o objetivo de abrir um espaço para que qualquer pessoa possa reduzir a quantidade de lixo que ela produz, as sócias Lívia Humaire e Lori Vargas criaram a Mapeei, considerada a primeira loja zero waste ou desperdício zero do Brasil. A loja física está localizada em uma galeria na Rua Augusta, em São Paulo, e também vende os produtos pela internet.

Lívia conta que iniciou uma jornada rumo ao desperdício zero com a família. “Diminuímos drasticamente a produção de lixo e banimos o plástico das nossas vidas. Não queremos produzir lixo de forma desnecessária. Esse lixo vai parar nos aterros, lixões, rios e oceanos e poluem praticamente todo nosso planeta. Dentro desse contexto, surgiu o movimento ‘zero waste’, que mostra na prática que podemos ter uma vida confortável, saudável, sem ferir nosso planeta, a natureza e nós mesmos acabando com os recursos que temos”, destaca.

Em 2017, a empreendedora fez uma viagem ao exterior e aproveitou para conhecer 25 lugares que se encaixam na filosofia zero waste. “Percebi o impacto que esses lugares estão provocando na sua comunidade local, estimulando pessoas e mostrando que você não precisa comprar um xampu, uma pasta de dente ou produtos para sua cozinha que vão gerar plástico de embalagem a cada vez que você precisar desses itens”, afirmou. No retorno ao Brasil, Lívia resolveu colocar a vontade de abrir uma loja dentro dessa filosofia, que está em operação desde 2018.

Entre os produtos vendidos na Mapeei estão os cosméticos da uNeVie, criada pela empresária Andréia Munhoz. O negócio começou de maneira despretensiosa em 2014 e hoje vende os mais de 60 itens na loja conceito na avenida Paulista, no e-commerce para o varejo, site exclusivo para atacado, pontos de vendas, representantes e planos de virar franquia.

São produtos para o corpo, rosto, cabelo, barba e maquiagem. Todos naturais e livres de matéria-prima animal. A produção mensal é de cerca de 8 mil unidades, com destaque para o xampu em barra, pasta dental, desodorante e esfoliante corporal.

De acordo com Andréia, o mercado de economia criativa está repleto de projetos de sustentabilidade com produtos naturais e veganos. “É praticamente uma simbiose, pois o empreendedor desse segmento quer vender, mas se preocupa com os seres vivos e como impacto ambiental de sua atividade. Estamos presenciando uma reviravolta no mercado atual com um consumidor em busca de produtos sem química sintética, agrotóxicos ou qualquer insumo que possa agredir sua saúde ou o planeta”, avalia.

Para a empresária, o mercado ainda tem muito para crescer, mas existem diversos desafios. “Os desafios são inúmeros: quebrar paradigmas a cada momento e conquistar nosso espaço respeitando os seres e o planeta. Projetos verdes visando sustentabilidade são complicados por falta de recursos e insumos disponíveis ou pelo alto custo de investimento. Qualquer pequeno passo que conquistamos e viabilizamos é como realizar um sonho”, diz Andréia.

LEGISLAÇÃO

Bares, restaurantes, padarias, hotéis e casas noturnas do Estado de São Paulo são proibidos de fornecer canudos plásticos aos clientes. A multa para quem desrespeitar a lei vai de R$ 530 a R$ 5.036.

Na cidade de São Paulo, os estabelecimentos comerciais serão proibidos de fornecer utensílios plásticos aos clientes, como copos, pratos, talheres. A lei entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2021. As penalidades para quem não obedecer às novas regras vão de advertência e intimação para regularizar a atividade até multa e fechamento administrativo do estabelecimento.

  • Economia criativa;MEI;