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Mercado de chás esquenta no Brasil

Expectativa é de alta de 43% no mercado brasileiro entre 2019 e 2023; conheça pequenas empresas que já atuam no setor, com inovação e toques locais
Por Gisele Tamamar
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Cada vez mais presente nas prateleiras dos mercados brasileiros, o chá está conquistando espaço nos cardápios de cafeterias e ganhando suas próprias casas e lojas especializadas. E as expectativas são positivas: 43% de crescimento do mercado entre 2019 e 2023, chegando a movimentar R$ 1,5 bilhão este ano, segundo a empresa global de pesquisa Euromonitor.

A alta é motivada, principalmente, pela busca de bebidas saudáveis, livres de açúcar, com baixo número de calorias, sem conservantes e corantes. A consultora do Sebrae-SP Helena Andrade destaca, ainda, outro ponto a favor dos chás: as diversas finalidades relacionadas ao seu consumo, como hidratação, relaxamento e bem-estar.

Sejam prontos, em saquinho, a granel, gaseificados ou cheio de bolhas: o bubble tea. Para quem tem interesse de investir no setor de chás, Helena afirma que ainda existe espaço para crescer, sobretudo pela aceitação entre o público jovem, que será responsável pela expansão do produto nos próximos anos, segundo relatório da ONG Forum for the Future.

“Grandes marcas de chá passarão a expandir seus investimentos no Brasil, uma vez que o consumo no Oriente já está consolidado e, aqui, há um grande potencial de consumo. Outro ponto importante é que pequenas marcas de chá têm um apelo maior com relação a sustentabilidade, e isso vem conquistando a preferência de muitos consumidores”, reforça a consultora do Sebrae-SP.

A empresa Estrela Vitta existe há dez anos oferecendo serviços de saúde integrativa. Mas foi no início da pandemia de Covid-19 no Brasil, em março de 2020, que a proprietária Carla Cardoso resolveu criar blends (misturas) de ervas para ajudar os clientes a ficarem em casa mais calmos durante o período de incertezas.

Carla esteve na China em 2019, onde realizou um curso de ervas chinesas e, desde então, busca se aprimorar na área. Foi durante uma missão empresarial promovida pelo Sebrae-SP para Dubai, nos Emirados Árabes, que a empreendedora abriu os olhos para inovar e investir no mercado.

A viagem também rendeu novos parceiros para negócios. O cacau de qualidade da Chocolates Baianí, de Juliana e Tuta Aquino, foi usado nos blends para aumentar o aroma e qualidade do produto e resultar em um chá gourmet especial.

E, junto com Pedro Moura Junior e Rafaela Emerin, da Cervejaria Cão Loko e FCB Gastro Pub, Carla está criando um chá gaseificado. “É uma tendência que está aumentando a cada ano em vários países e estamos confiantes de que o produto também seja aceito no Brasil, mas também ousamos buscar a chance de exportação”, destaca. Hoje, a Estrela Vitta tem uma casa de chá em São Paulo, clínica de saúde e abriu recentemente uma fábrica de chás e
infusões. O otimismo também está na estratégia para a empresa, com planos para aumentar a fábrica e buscar novas parcerias.

RAÍZES
Outra empreendedora que aposta nos chás é Patrícia Akemi Fuzisaka Moribe, fundadora da Mori Chazeria, aberta em 2021, em São Paulo. Pertencente à terceira geração de imigrantes japoneses no Brasil, Patrícia tem orgulho das suas raízes e bebe chá desde criança.

“O chá faz parte da cultura oriental e percebi que, por meio do chá, eu poderia divulgar a cultura dos meus antepassados de uma forma inovadora e interessante”, relata. Além das infusões, o local oferece almoços, salgados, doces e realiza eventos especiais. Ainda tem opções mais “tropicais”, como drinks não alcoólicos com chá e suco de fruta, chá gelado com água de coco, infusões brasileiras, como o mate com limão ou capim-limão com suco de maçã, chamado de “sucha” (suco + chá).

Entre os fatores que contribuíram para o crescimento do mercado, Patrícia aponta a preocupação crescente dos brasileiros com a alimentação e a busca por uma vida equilibrada. “O chá pode ser um aliado no nosso dia a dia corrido. O momento do chá pode ser um momento prazeroso de autocuidado. Ele é um produto muito rico em sabores, aromas, histórias e cultura”, destaca.

Para fomentar o negócio, a empreendedora pretende seguir com a divulgação da cultura japonesa e a cultura do chá. “Pretendemos oferecer mais tea experiences, workshops, palestras e cursos sobre temas relacionados à cultura oriental”, planeja.

ROTA DO CHÁ
Conhecida como a capital brasileira do chá, o município de Registro, no sul do Estado de São Paulo, chegou a ter um ‘boom’ com cerca de 40 fábricas em funcionamento. Atualmente três empresas se destacam, cada uma com suas características, e fazem parte da Rota do Chá, evento anual de conhecimento, vivência e networking.

A Rota promove visitas guiadas no Sítio Shimada (chás orgânicos e artesanais), Sítio Yamamaru (chás cultivados sob método agroflorestal) e Amaya Chás (única fábrica de maior porte da região). A proposta é para o participante vivenciar o chá como um todo: desde a colheita, passando pelo processamento até a degustação, em uma imersão com muitas histórias. Neste ano, o evento acontece de 9 a 12 de novembro (informações em https://infusorina.com/).

A família dos irmãos Miriam Mikiko Yamamaru Oka e Kazutoshi Yamamaru chegou ao Brasil em 1953, onde se estabeleceu no Bairro da Raposa. Assim como as outras empresas do setor, sofreu na década de 1990 e chegou a encerrar as atividades. A retomada ocorreu mais recentemente, em 2017, com a proposta de um sistema agroflorestal, ou seja, as plantas do chá são cultivadas entre outras plantas nativas, como o palmito juçara. “Esse
consórcio com a natureza deu muito certo”, conta Miriam.

O Sítio Yamamaru também faz parte de um projeto do Sebrae-SP para desenvolver o turismo rural no Bairro da Raposa em conjunto com mais sete empresas, de diferentes produtos. “Desenvolver a qualidade do produto artesanal é a forma das pequenas empresas se diferenciarem no mercado. Estamos fazendo um trabalho para desenvolver a comunidade para o turismo e aumentar as frentes de atuação”, afirma o consultor do Sebrae-SP Ricardo Oliveira.

Modelos de negócio
O empreendedor disposto a investir no mercado encontra uma série de oportunidades, como fabricar seu próprio chá e comercializar, atuar com sua marca em eventos e atender o mercado corporativo. Outras possibilidades são: importar chás e comercializar os produtos nas redes sociais ou em loja física no varejo ou atacado, montar uma chazeria para atender presencialmente os apreciadores da bebida e diversificar o portfólio com outros produtos, comercializar bubble tea, fabricar ou importar kombuchas (bebida fermentada a partir do chá) ou adquirir uma franquia.

Mas, antes de avançar no negócio, a consultora do Sebrae-SP Helena Andrade destaca a importância de entender os hábitos de consumo dos clientes e as questões ligadas a sustentabilidade “Nesse ponto as pequenas marcas ganham vantagem e podem fazer disso parte da sua proposta de valor. Entender as mudanças nos hábitos de consumo das pessoas e mostrar que o chá é capaz de oferecer uma experiência que vai muito além do simples consumo da bebida”, reforça.

Segundo a consultora, a falta de conhecimento sobre o produto ainda é um desafio para quem atua no setor. Outro ponto de atenção é que muitas pessoas ainda preparam o chá de maneira incorreta, impactando diretamente no sabor e na experiência de quem está consumindo. “Fatores como o tempo de infusão e temperatura da água impactam diretamente no sabor”, alerta.

Sítio Shimada
Ume Shimada, do Sítio Shimada, foi tema do “Conte sua História” do Jornal de Negócios. Confira a matéria aqui.

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