“Minha jornada empreendedora começou quando meu pai passou a apresentar os primeiros sinais de Alzheimer. Naquela época eu já era formada e tinha feito o mestrado, ambos na área de administração hospitalar e serviços de saúde. O primeiro passo foi fundar, junto com a equipe médica que estava cuidando do meu pai, a Associação Brasileira de Alzheimer, conhecida como ABRAz.
Foram 27 anos trabalhando com eles, o que me fez ter um contato muito grande com as mulheres que recebem a responsabilidade de cuidar desses pacientes. Algumas delas ainda tinham curso técnico ou ensino superior, mas outras precisavam assumir integralmente essa responsabilidade sem nenhum tipo de instrução ou preparo.
Sozinhas, caía sobre elas a responsabilidade de tomar conta de uma casa, além de todos os cuidados do tratamento da pessoa com Alzheimer. Essa situação fica ainda mais complicada por não existirem tantos canais que ofereçam instrução para esse momento. Além disso, no futuro essas pessoas passam a ter problemas para voltarem ao mercado de trabalho.
Foi pensando nisso que deixei a ABRAz e parti para um novo projeto. Assim nasceu a 50mais Ativo, onde atuamos com três grandes áreas. Uma é o trabalho com um público acima dos 50 anos, oferecendo possibilidades para desenvolver o envelhecimento de forma mais saudável e tranquila.
Para isso, nós realizávamos encontros semanais em cinemas ou casas de chá para apreciar e conversar sobre o que aprendemos com esses momentos. Outra área são os cursos que oferecemos para cuidadores e aulas de estimulação cognitiva para quem trabalha em setores do mercado que são difíceis de retornar.
Por último, temos a área que chamamos de ‘Pausa no Cuidar’, que estimula esses cuidadores a conversaram sobre os sentimentos sem nenhum julgamento. A nossa empresa ainda é jovem, tem cerca de dois anos. Então, para aprender ainda mais sobre empreendedorismo, eu participei do projeto ‘Empreendendo após os 60’, realizado por uma parceria entre o Sebrae e o HCor.
Foi uma ótima experiência, eu absorvi os conteúdos com tanta facilidade que nem parecia que estava estudando. Esse conhecimento ajudou a preparar melhor os rumos da 50mais Ativo durante a pandemia. Todos os nossos encontros eram presenciais e tivemos que transformar em reuniões online para continuar atendendo o nosso público.
Esses esforços renderam para o programa ‘Pausa no Cuidar’ o Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade na categoria voltada para pessoas idosas. Foi um orgulho muito grande conquistar isso, porque mesmo trabalhando em casa, com todas as dificuldades impostas pela pandemia, tivemos esse reconhecimento. Essa conquista levantou o questionamento da minha sócia, Fabiana Satiro, que me perguntou se isso me faria sossegar. Só que chegar a esse ponto me fez ter vontade de levar o projeto para muitos outros lugares.
Para mim, o envelhecimento é sobre entendermos quais são nossos novos limites, afinal não tem como fugir disso: desde que nascemos estamos ficando mais velhos o tempo todo. Eu acho que minhas rugas e meus cabelos brancos são lindos, pois mostram tudo aquilo que eu já vivi.
Ao olhar no espelho consigo reconhecer todas as coisas boas que passaram e quais foram os resultados positivos que tirei. Ao envelhecer, ainda temos sonhos que queremos buscar. Eu me sinto idosa, e não velha. Velho é aquele que fica ranzinza e não aceita nada de diferente, mas o idoso é aquele que ainda sente vontade de dançar junto com os mais jovens, mesmo que não seja com a mesma intensidade.”