Entre as muitas coisas que a pandemia afetou profundamente, estão os eventos sociais e festas familiares, que tiveram de encontrar novas formas para acontecer. Com os salões de portas fechadas, o que entrou em cena foram os diversos aplicativos de chamada virtual. Quem também viu seu espaço minado por essa nova realidade de distanciamento social foram os negócios do mercado audiovisual. Muitas dessas empresas tinham o foco em criar lembranças com fotos ou vídeos desses momentos especiais. Porém, com o início da quarentena, logo vieram os cancelamentos de serviços marcados e o sentimento de incerteza para os rumos desse setor.
Quem logo percebeu que o momento teria um impacto sem precedentes para os seus negócios foi Anderson Silva da Cunha, sócio-diretor da Insert Filmes, empresa especializada na cobertura em vídeo de eventos sociais e profissionais. Logo em março de 2020, quando foram realizados os primeiros decretos de fechamento do comércio, a empresa perdeu os primeiros trabalhos.
“Se eu bem me lembro, a ordem de fechamento aconteceu em um sábado, e logo o evento de um cliente que estava marcado no domingo foi cancelado. Era um ótimo contrato, mas isso não nos abalou porque tínhamos a esperança de que em três meses tudo estaria normalizado novamente”, relata ele.
A Insert Filmes, com oito anos de mercado, sempre conseguiu fechar as contas, diz Anderson, mas estava longe do que ele e o sócio, seu irmão Carlos da Cunha Júnior, esperavam dos resultados. Foi em 2017 que a empresa passou pelos primeiros sinais de uma melhora nos negócios, atingindo o melhor momento em 2019. No começo de 2020, as coisas estavam caminhando muito bem.
“Todo início de ano é mais parado, pois os clientes acabaram de gastar mais com contas anuais, como IPVA, IPTU e escola dos filhos. Porém, em 2020, nós nem tínhamos conseguido tirar o mês de férias como costumávamos fazer. Nós não paramos um minuto, até vir a pandemia”, relembra.
Para fugir dos momentos mais complicados, a transformação foi essencial para muitos setores do mercado e essa exigência também pairou sobre o setor audiovisual. Para o consultor do Sebrae-SP César Ossamu Filho, a dificuldade da mudança foi causada pela maneira costumeira de como os negócios eram feitos nessa área.
“As empresas do setor audiovisual muitas vezes esperam que os clientes demandem as produções com bases em necessidades. Só que esses negócios possuem todos os recursos, como câmeras, iluminação, profissionais prontos para desenvolver roteiros, que poderiam vender para esses consumidores as possibilidades desses trabalhos”, explica.
Ossamu destaca que a digitalização forçada que muitos empreendedores precisaram passar é um dos campos abertos de oportunidades para quem desenvolve projetos em áudio ou vídeo. “Existem eventos que deixaram de existir presencialmente, mas migraram para o digital. Para isso, são necessárias algumas estruturas que as agências desse setor podem fornecer, como desenvolver projetos completos ou a expertise no uso de equipamentos de vídeo e iluminação”, explica.
A insegurança fez com que Anderson e Carlos pensassem em deixar essa área para embarcar em uma empreitada no ramo alimentício, mas a paixão pelo audiovisual os fez lembrar que em épocas passadas também tiveram de encontrar novos produtos que poderiam ser oferecidos para os clientes.
“Em 2016, quando os tempos financeiros também estavam mais complicados, nós sobrevivemos produzindo vídeos de pets. Em 2020, nossa sacada foi aproveitar o aumento no número de lives, por isso passamos a realizar essas produções para os clientes.” Além disso, Anderson também conta que o ano de eleições municipais teve papel importante para recuperar o ritmo dos negócios.
“A política ajudou muito a produtora. Como os candidatos não podiam fazer divulgação com aglomerações, eles precisaram muito de vídeos para divulgar as campanhas. Isso foi tão benéfico para a Insert Filmes que eu tive de contratar um profissional para me auxiliar e meu irmão contratou mais quatro editores de vídeo. Nós saímos de um ponto em que pensávamos em encerrar as atividades para uma realidade em que pudemos expandir a nossa equipe”, conta Anderson, que já está com contratos fechados para 2021.
ATENÇÃO ÀS CONTAS
Além de todas as transformações digitais, a pandemia foi o momento que as empresas começaram a analisar e refazer os planejamentos financeiros. Voltar as atenções para esse ponto foi o que ajudou Denise Guerra Bastos, sócia-proprietária da Biografia FotoStudio, a manter as atividades nesse período.
A principal atividade da empresa eram as fotografias familiares, realizadas em estúdio próprio, bem como algumas produções gráficas. “Nós estávamos seguindo um ritmo bem legal, pois temos contratos com muitas famílias, mas, a partir do momento que nós tivemos de fechar, nosso faturamento praticamente zerou.”
Denise conta que eles não demoraram muito para agir após as primeiras recomendações de distanciamento social serem definidas em março do ano passado. “Logo no início, nós sentamos e pensamos vários cenários de quanto tempo ficaríamos fechados. Colocamos nessa balança que a retomada seria lenta, muito pelo receio das pessoas”, relembra.
Ela contou com a ajuda de um consultor financeiro para auxiliar a analisar o fluxo de caixa e conseguir definir se seria necessário tomar a difícil decisão de encerrar os negócios. “Se a empresa continuasse operando como antes e esperando a reabertura, eu poderia acabar sacrificando os negócios. Nós precisamos fazer um plano de redução da equipe, utilizando todas as medidas trabalhistas que foram disponibilizadas na época, para poder seguir as projeções de custos e continuar funcionando”.
Esse planejamento fez com que a Biografia FotoStudio não só se mantivesse aberta, como também realizassem uma mudança no espaço físico. “Esse período nos permitiu ir para uma nova loja, algo que nós queríamos muito. A pandemia fez com que o mercado imobiliário também nos auxiliasse e atualmente temos uma loja tanto com uma localização melhor, como com um custo mais baixo. O que nos ajudou foi a agilidade que tivemos em organizar nossas finanças”, conta.
:: Ideias para inovar ::
O consultor César Ossamu Filho selecionou algumas sugestões para que as empresas do setor audiovisual possam pensar em novos negócios
Pesquise áreas que precisam de divulgação
Alguns segmentos de mercado podem ter dificuldades para anunciar seus produtos e serviços e alcançar novos clientes. As empresas de audiovisual podem pesquisar quais dessas áreas estão mais aquecidas e fechar parcerias para produzir os materiais de divulgação, tornando-se referência no setor.
Aproveite as oportunidades digitais
A transformação digital que muitos empreendedores precisaram passar para trabalhar durante a pandemia também trouxe novos formatos que as empresas do audiovisual podem aproveitar. Exemplo disso foi o aumento na popularidade das lives e na demanda por conteúdos educativos em vídeo.
Encontre oportunidades escaláveis
O mercado audiovisual costuma trabalhar com a demandas de clientes. Porém, empresas desse setor podem pensar em modelos disponíveis na internet para comercializar suas produções. Os bancos de imagem, que vendem fotos e vídeos para o mercado publicitário e cinematográfico, são um exemplo de plataforma que compra esses conteúdos para expandir o catálogo.
Venda a expertise
Algumas empresas podem não ter o capital necessário para investir em produtos audiovisuais profissionais, cabendo a elas mesmas essa produção. Os empreendedores podem, então, vender consultorias de como melhorar as fotos e vídeos para divulgação em redes sociais ou para outras formas propaganda.