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Profissionais da tatuagem ampliam foco dos negócios

Número de empresas do setor cresce 145% desde 2019 e empreendedores buscam alternativas para ter ‘proposta única’ diante da concorrência
Por Gabriel Jareta
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A carreira do tatuador Epitácio de Souza Neto, o Akira, começou cedo. Se hoje é conhecido por amigos e clientes pelo apelido que deu nome ao seu estúdio, o Akira Tattoo Studio, em Santos, a paixão pelo desenho remonta à infância: aos 12 anos já pintava camisetas à mão com personagens e nomes de banda para vender aos amigos. “Eu sempre vendi arte aplicada à camiseta, já tive estamparia. A tatuagem, na verdade, veio depois. Minha essência mesmo é estampa, a arte final”, diz.

A profissionalização na tatuagem veio no ano 2000 – até então, Akira fazia desenhos para outros tatuadores. Por alguns anos, continuou trabalhando como estilista para uma marca de surfwear em paralelo às tatuagens e decidiu passar uma temporada trabalhando no Japão para aprender o estilo oriental, considerado um dos mais complexos da tatuagem. Quando voltou ao Brasil, em 2009, começou a trabalhar em um estúdio famoso. Pouco tempo depois, saiu de lá para abrir seu próprio estúdio.

Foi quando Akira precisou entender que, além de tatuador, ele também era um empreendedor. “Só fazer o desenho não é difícil, mas você tem impostos, normas, registros. São informações técnicas que você precisa ir atrás”, afirma. Junto a ele no estúdio trabalha também a esposa, Nívia Fernandes, que faz micropigmentação e é responsável pelo marketing do estúdio.

Agora, o próximo desafio do casal é voltar a investir na antiga paixão de Akira, a estamparia. Para isso, estão buscando apoio do Sebrae-SP para entender mais da parte industrial, vitrinismo, gestão, acesso a crédito e marketing digital, já que o objetivo é trabalhar com e-commerce. “Tivemos todo apoio para a formalização, todas as consultorias financeiras, já estamos bem estruturados, mas temos alguns gargalos, como encontrar bons fornecedores. Não posso fazer de qualquer jeito, tem que ser bem elaborado”, afirma Akira.

Akira e a esposa, Nívia Fernandes, que atua com micropigmentação no estúdio: próximo passo é uma estamparia própria

Conhecimento único

A abordagem profissional de Akira e a busca por expandir sua arte para além da tatuagem são ações importantes dentro de um mercado que está cada vez maior no Brasil. Somente no Estado de São Paulo, são 9.968 pequenos negócios no segmento de serviços de tatuagem e colocação de piercing, segundo dados de maio de 2023. Esse montante representa um aumento de 145% desde dezembro de 2019, o que mostra uma forte expansão mesmo durante os anos de pandemia de Covid-19. Por porte, a maioria expressiva dessas empresas é formada por Microempreendedores Individuais (92,4%), seguida de 6,8% de microempresas e 0,9% de empresas de pequeno porte.

Para o consultor do Sebrae-SP César Ossamu, o aumento da concorrência não é uma má notícia para os empreendedores do setor, pelo contrário: ajuda o mercado de tatuagens a ter mais visibilidade e incentiva mais pessoas a também querer um desenho no corpo. E, para se diferenciar, é preciso saber qual a sua “proposta única”. “Como você quer ser visto pelo mercado, como você quer ser percebido pelas pessoas? O que você oferece que ninguém mais oferece ou de maneira que ninguém mais está oferecendo?”, questiona o consultor.

Na prática, explica Ossamu, isso significa que o profissional deve entender o que seu conhecimento tem de único, qual sua vivência e como ele chegou até ali. “Muito do universo da tatuagem tem conexão com o significado, tem a conexão emocional com o momento que merece o registro. Entender esse processo pode ajudar na comunicação, no posicionamento e na forma com que o profissional atende”, diz o consultor. Outra orientação é especializar-se em algum segmento, como o desenho realista ou animes, que são mais específicos. “Isso vai tornando o profissional cada vez mais único”, afirma.

Outra questão para quem tem um estúdio de tatuagem ou tatua profissionalmente é enxergar-se como empreendedor. Com isso, mesmo o profissional que não tem brecha na agenda acaba não vendo o dinheiro na conta no final do mês. “Muitas vezes, o que acontece é que o profissional não soube precificar o trabalho dele. Faz isso de forma empírica, leva em conta custos diretos envolvidos, mas não considera outros fatores”, diz Ossamu. No preço, o tatuador leva em conta apenas o tempo da execução, mas não o desenvolvimento da ideia, a conversa com o cliente, uma eventual manutenção. “O tempo é essencial, na venda é preciso já mostrar o quanto de tempo está envolvido e o quanto de atenção o cliente terá”, observa.

Mentorias

De olho no crescimento do mercado, o tatuador Tuzinho, nome pelo qual Anderson Ferreira Almeida é conhecido nacionalmente no mercado, passou a oferecer “mentorias” para profissionais interessados em desenvolver a carreira. Com quase 400 mil seguidores no Instagram e 50 mil no YoutTube, Tuzinho diz que um estúdio de tatuagem não vive hoje sem um marketing digital eficiente. Tanto que as duas unidades do estúdio dele, o Original SP Tattoo, em Taboão da Serra e em Moema, na Capital, contam com um videomaker que faz o começo, meio e fim das artes aplicadas, edição profissional e um gestor de tráfego que envia os materiais para o YouTube, o TikTok e o Instagram. Além disso, ele se orgulha do atendimento no Whatsapp – a resposta precisa ser imediata. “Até conseguir marcar a tattoo, 1% de quem chama fecha”. Hoje, são seis tatuagens por dia, em média.

Na mentoria, conta Tuzinho, ele ensina desde como fazer as melhores fotos do trabalho até como se comportar diante do cliente. “Para abrir o estúdio, é fácil. Basta ter o aluguel pra começar, colocar uns quadros, mas é difícil fazer a gestão, o atendimento, oferecer um café, um

refrigerante”, observa. A ideia surgiu a partir de vídeos que ele já fazia, mas ganhou tração durante a pandemia. “Quando a pandemia chegou, eu estava preparado para vender cursos e levantei um capital para prosseguir”, diz. Segundo ele, a mentoria é uma troca, em que ele vai melhorando a qualidade do trabalho do tatuador ou da tatuadora, e também vai aprendendo no processo.

Na sua experiência de 25 anos no mercado, Tuzinho ressalta que muito do seu aprendizado veio da convivência com outros tatuadores e a participação em convenções e workshops. “Aprendi muita coisa sozinho, mas ninguém chega num nível muito alto sozinho”, afirma. E para que seu estúdio tenha sucesso, outro ponto de atenção é com os tatuadores parceiros que atuam no local. “Se você quer um estúdio competitivo, tem que ter tudo em estoque, tinta, vaselina, agulhas etc, tanto para fornecer quanto para vender para o tatuador. Para manter o padrão, o cliente deve ser do estúdio, não é apenas ‘alugar’ a cadeira”, conclui.

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