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Produtos à base de plantas ganham mercado

Pesquisa mostra redução no consumo de carne animal e maior interesse por alternativas vegetais, as chamadas plant based
Por Gisele Tamamar
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Plant based, feito de plantas ou 100% vegetal. Os produtos com esses “selos” estão ganhando cada vez mais espaço nas prateleiras de supermercados e nos cardápios de restaurantes e lanchonetes. O cenário é promissor e cheio de oportunidades, inclusive para as pequenas empresas.

Na avaliação da diretora estratégica na Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e fundadora do Pop Vegan Food, Mônica Buava, as pequenas empresas não só têm espaço como são pioneiras no mercado. “As grandes empresas ajudam a dar visibilidade ao tema, chegar a lugares mais longínquos. Mas o dia a dia é feito por pequenas empresas, pequenos comerciantes, do restaurante da esquina à doceira que revende na cafeteria só do bairro”, destaca.

Os dados são animadores. A previsão para o mercado global é que as carnes vegetais e de fermentação passem de uma representatividade de 10% em 2025 para 25% em 2040, movimentando US$ 450 bilhões, de acordo com a consultoria global Kearney.

Do lado do consumidor, a tendência também é positiva, conforme pesquisa do The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil). No Brasil, em 2022, 67% das pessoas afirmam ter diminuído o seu consumo de carne nos últimos 12 meses, um aumento expressivo de 17 pontos porcentuais em relação a 2020, quando 50% das pessoas já estavam comendo menos carne.

Para 45%, o principal motivo para a redução foi o aumento do preço. Logo em seguida, com 36%, aparece a preocupação com a saúde. As alternativas vegetais começam a fazer parte do dia a dia da população, inclusive as chamadas análogas, que imitam os produtos de origem animal.

Sabores

O empresário Luis Paulo Soares notou no dia a dia do restaurante El Soares Sabores Mexicanos, em São Paulo, um maior interesse por opções vegetarianas e veganas, principalmente nos últimos três anos.

O negócio começou com o atendimento de eventos, depois surgiu com um food truck até se instalar em um ponto comercial na zona norte, há seis anos. A grande incentivadora para a inclusão de itens veganos no cardápio foi uma cliente. Em transição para o veganismo, ela estimulou a busca por insumos e desenvolvimento de fornecedores.

“Hoje conseguimos ter um cardápio inteiro vegetariano e vegano, oferecendo as mesmas opções do cardápio tradicional, respeitando as características. Isso é motivo de orgulho porque sabemos da dificuldade desse público de encontrar opções adequadas”, conta Soares, que chegou a ter 30% dos pedidos de entregas de opções veganas no começo do segundo semestre de 2020, na pandemia de Covid-19.

Um dos carros-chefes é o combo “platter”, composto por dois tacos, duas quesadillas, um chili beans, totopos e os molhos guacamole, cheddar e sour cream. Tudo vegano.

“Temos um burrito de jaca e chili que chegou a levantar dúvidas dos clientes se não tinha carne mesmo”, lembra o empresário. Na linha de plant based, o restaurante fez um trabalho com a Fazenda do Futuro (empresa especializada nesse mercado) para o desenvolvimento de receitas tex mex, que reúnem elementos da culinária do Texas e do México. O resultado foi a criação de um burrito com frango e um taco com linguiça, ambos plant based.

Luis Paulo Soares, do El Soares Sabores Mexicanos, tem no cardápio burrito com frango e taco com linguiça da linha plant based

Proteína

De olho nesse mercado, um grupo de profissionais que atuam há décadas com o cogumelo shitake Lentinus edodes, desde a produção, organização da cadeia produtiva até a pesquisa científica, fundou a Kinsho Alimentos e lançou o Mushfood. Trata-se de um alimento vegano, composto de ingredientes naturais, sem componentes químicos, com 30% de proteína, enriquecido com vitamina B12 vegana.

“Baseados em pesquisas, acreditamos que o mercado de plant based está em pleno crescimento, ganhando cada vez mais espaço em um mercado que clama por mais saúde com responsabilidade socioambiental. O grande desafio do momento é alimentar uma população crescente sem causar maiores impactos ao meio ambiente”, afirma a sócia e diretora comercial da Kinsho, Heloisa Helena Favara.

O produto é comercializado em pacotes de 150 gramas e 1kg e pode ser consumido ao natural em saladas, iogurte, polvilhado na comida, em molhos, recheios de esfirra, pastel, hambúrguer, granola, enriquecendo as receitas com uma grande quantidade de proteína.

Com sede em Piedade, o Mushfood chegou ao mercado em março de 2022, primeiro com vendas regionais, promovendo degustações. “Optamos por começar organicamente, mas alguns mercados tomaram conhecimento do produto e acabamos chegando ao Rio de Janeiro e na cidade de São Paulo”, conta Heloisa.

Neste ano, a empresa ampliou a estratégia com a participação em feiras e eventos direcionados para dar mais visibilidade ao produto. “Estamos chegando ao mercado e pretendemos nos consolidar como um alimento produzido a partir de uma cadeia de valor, segura, ambientalmente limpa, socialmente justa e economicamente viável”, reforça Heloisa.

Oportunidade

Para quem tem planos de investir no mercado, a diretora da SVB reforça que, primeiramente, é preciso entender que é mais fácil do que se pensa. Isso porque não são necessários insumos caros, maquinários e equipamentos diferenciados. Segundo ela, outro ponto é compreender que não é uma “modinha”.

“A alimentação vegana é fundada numa nova escolha de consumo que prioriza o bem estar de vários setores da sociedade. A empresa tem que perceber e respeitar os valores que são pilares do veganismo para que seu nome seja consolidado e que transmita confiança”, aponta.

Um dos pontos do relatório da GFI Brasil é que o principal público-alvo da indústria plant based não é o vegano ou vegetariano, mas sim o consumidor que reduz ou limita o consumo de produtos de origem animal sem interrompê-lo por completo, o flexitariano. Atualmente, eles representam 28% dos brasileiros.

O consultor de negócios do Sebrae-SP Carlos Alberto Biondo reforça que conhecimento é fundamental em qualquer segmento de atuação. Não apenas técnico, mas também gerencial. Por isso, ele recomenda avaliar o mercado identificando as principais dores desse público e adequar a linha de produção em função dos produtos a serem ofertados.

Outro ponto é agregar valor à oferta final. “Praticidade, porcionamento, validade e embalagens são exemplos que devem ser avaliados na decisão de se produzir, seja in natura, refrigerado ou congelado”, diz Biondo.

“Cada vez mais, um novo nicho de mercado está se consolidando. Mais que voltado ao público vegetariano e vegano, o mercado plant based vem preencher uma lacuna: a redução no consumo da proteína animal e sua substituição por produtos à base de plantas. Para quem pretende investir no mercado, o Sebrae-SP pode auxiliar o empreendedor a entender e minimizar os riscos inerentes ao negócio”, ressalta Biondo.

Tipo de alimentação do consumidor

Onívora: 61%

Flexitariana: 28%

Pescetariana: 7%

Vegetariana: 3%

Vegana: 1%

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Tipos de dieta

Onívora: consume produtos de origem animal e vegetal regularmente

Flexitariana: procura reduzir o meu consumo de produtos de origem animal

Pescetariana: entre os produtos de origem animal, consome apenas peixes e frutos do mar, ovos e derivados do leite

Vegetariana: não consome qualquer tipo de carne, apenas ovos e derivados do leite

Vegana: consome apenas produtos de origem vegetal e rejeita qualquer produto de origem animal

Fonte: GFI Brasil

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Pontos de atenção para investir no mercado 

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·       Entregar experiência de consumo semelhante ao produto convencional

·       Ampliar a oferta com base na percepção de qualidade a partir do cliente

·       Vender os produtos a um preço competitivo na categoria

·       Entregar aspectos nutricionais semelhantes ou melhores que o produto convencional

·       Ter praticidade para que se integrem ao dia a dia das refeições feitas (fora e em casa)

·       Parecer natural e evitar ingredientes desconhecidos

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Fonte: Carlos Alberto Biondo, consultor do Sebrae-SP

  • plant based; alimentação; carne
  • vegetariano; vegano; indústria