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Produtores de café apostam em grãos de qualidade para conquistar mercado

Café Irmãos Moscardini e Terra Molhada, de Franca, fazem parte do grupo de empresas que trabalham para se diferenciar no setor
Por Gisele Tamamar
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De um lado, um consumidor exigente, em busca de produtos sustentáveis, inovadores e de qualidade. Do outro, pequenos produtores de café trabalham para se diferenciar no mercado, diversificar o portfólio e aumentar a lucratividade. E de olho em um mercado que movimentou mais de R$ 27 bilhões no Brasil, em 2020, segundo a Euromonitor International.

Um dos produtores que integram esse movimento é Elder Moscardini Filho, CEO e chefe de qualidade do Café Irmãos Moscardini, de Franca. Ele faz parte da quarta geração da família que atua na cafeicultura, mas a produção em terras próprias começou apenas com o pai e tios. Até sua chegada na empresa, a fazenda apenas fornecia os grãos verdes aos exportadores.

O interesse pelos cafés especiais foi despertado durante a faculdade de química. Após a formatura, Elder investiu em uma torrefação e desde 2014 segue com uma série de melhorias da marca como mudança na embalagem, lançamento anual de um novo café e site. Atualmente, a Café Irmãos Moscardini trabalha com duas linhas de produtos. A Gourmet é intermediária, da qualidade do café tradicional, de supermercado; a linha Especial é de alta qualidade, tipo exportação.

De acordo com Elder, a linha Gourmet é uma ótima opção para quem quer entrar no universo de cafés de qualidade, como se fosse uma linha de transição. Já a Especial é indicada não só para quem já conhece e gosta de cafés de qualidade, mas também para quem quer aprender a degustar cafés mais sofisticados. Isso porque a linha começa com um café de torra escura, ensinando o paladar sobre a nota sensorial “corpo”, passando pela nota sensorial “equilíbrio”, depois “doçura” e “acidez” até chegar na mais complexa que é a nota sensorial “sabor”.

“É uma verdadeira escadinha do paladar, tanto por notas sensoriais quanto por nota de SCA (classificação internacional de cafés de qualidade), começando no Cacau e Castanhas com 81 pontos e finalizando no Frutado com 90 pontos”, explica.

A marca conta também com a opção “Drip Coffee”, um pequeno sachê com uma dose individual para filtrar direto na xícara e se encaixa no conceito de sustentabilidade. A embalagem de fora é metalizada, pode ser reciclada, e a interna é “tecido-não-tecido”, papelão e café, tudo biodegradável.

O empreendedor ainda investiu em uma loja conceito, em 2021, para ensinar sobre degustação, extração de um bom café em casa e até harmonização. A marca começou a exportar café torrado para Hong Kong e tem uma série de planos para 2023. Entre eles está o lançamento de uma edição limitada e com cafés exóticos, além de finalizar a formatação da loja conceito para franquear o negócio.

VISIBILIDADE
A empresa de Franca é um exemplo de como se diferenciar no mercado e não se limitar apenas ao fornecimento de grãos para exportação. De acordo com a gestora estadual de agronegócio do Sebrae-SP Julia Guaragna, nesse mercado exigente e competitivo, o pequeno produtor precisa buscar soluções para se destacar, ter um bom marketing do produto e entender as necessidades do consumidor final.

Julia reforça a possibilidade de diferenciação por meio da forma de produção: orgânico, agroecológico, produzido por mulheres, por exemplo. E ainda o destaque por meio de certificações de acordo com a região de origem ou com a busca de certificações de qualidade do café ou de sustentabilidade.

“Esses cafés conseguem ser comercializados por valores acima de mercado e podem ser vendidos em edições especiais e limitadas, criando o desejo de consumo no público”, afirma Julia.

VALORIZAÇÃO
O empresário Jaider Alexandre da Silva, proprietário da marca de cafés especiais Terra Molhada, enxergou a oportunidade de criar um negócio a partir da alta procura por cafés especiais e da grande oferta de cafés de qualidade produzidos na região da Alta Mogiana. O interesse, inclusive, foi tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da pós-graduação em Gestão de Processos ao abordar a gestão na Cafeicultura dos Cafés Especiais.

Jaider Silva comprou a marca em 2021 e resolveu entrar de vez no mercado. “Seleciono cuidadosamente os grãos que serão torrados de fazendas que respeitam o meio ambiente e preservam seus recursos”, relata. Atualmente, a marca tem o café especial com aspecto sensorial de chocolate e caramelo e a linha gourmet.

“Nesse primeiro momento a proposta é trazer para o cliente final um sensorial mais suave para que ele tenha uma boa experiência ao degustar seu café sem adição de açúcar, pois esses cafés já possuem uma doçura natural”, afirma.
Para 2023, o empresário pretende participar de feiras e eventos e oferecer cafés com elementos sensoriais de cana de açúcar, rapadura, frutado e fermentado.

DESTAQUES
A gestora do Sebrae-SP afirma que algumas regiões do Estado vêm se fortalecendo por meio da atuação em associações e grupos de produtores de café.

Além da Alta Mogiana, Julia destaca as regiões de Torrinha, Vale da Grama, Circuito das Águas Paulista, Nova Alta Paulista e Garça, que teve sua Indicação Geográfica (IG) reconhecida recentemente.

A IG é a designação que identifica um produto ou serviço como originário de uma área geográfica delimitada, quando determina qualidade, reputação ou outra característica são essencialmente atribuídas, a essa localidade.

Segundo Julia, na pandemia, ficou muito evidente a necessidade de reconhecer os produtos locais e regionais e essa vem sendo uma tendência crescente há alguns anos. “No café, as características peculiares dos territórios e microclima onde são produzidos trazem aspectos diferenciados, o que caracteriza uma potencial IG, além disso, a IG também valoriza os saberes específicos das comunidades agricultoras”, ressalta.

:: COMO O SEBRAE-SP PODE AJUDAR ::
O Sebrae-SP tem uma série de ações voltadas para os produtores de café:
– Projetos Especiais e Vocacionais com IGs (Indicações Geográficas).
– Uso de ferramentas, como Sebraetec (Qualidade do café, Critérios SCAA – Colheita e pós-colheita) que trabalha na adequação para certificação.
– Programa ALI Rural (Agente Local de Inovação) para melhoria de produtividade.
– Especificamente para IG: auditoria pré-processo de IG que avalia as características do produto, da região e do grau de maturidade da governança para partir em busca da importante chancela de mercado.

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