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Produtor de café de Garça trabalha pela valorização do grão originário da região

'Não vendo só café, vendo uma história, um jeito de produzir. O que levo para o consumidor é uma experiência gastronômica', afirma Cassiano Tosta
Por Marina Sayuri*
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Produzo café desde 2014. Mas meu pai já era produtor e dono de uma propriedade desde 1972. Ele sempre produziu café commodity, que é um jeito tradicional de se trabalhar. Em 2013, ele identificou que estava tendo muito prejuízo e me procurou para fazer um balanço financeiro. Decidimos vender a propriedade em forma de loteamento.

Surgiu uma oportunidade de comprar um lote de terra vizinho. Eu o adquiri e decidi com meu pai que começaríamos a empreender com loteamento. Mas, em 2014, vivemos uma crise financeira e decidimos que não era o momento para vender os lotes. A área que tinha comprado também era utilizada para plantação de café e como já havia investido, pensei: ‘Vou começar a vender café’. Porém, havia algo que me incomodava: o mercado de commodities. Passei a estudar e identifiquei o mercado de cafés especiais, que que vinha crescendo e ganhando espaço no Brasil.

Como esse mercado é muito específico, fiz cursos para entender a qualidade da bebida. Percebi a possibilidade de trabalhar o café mudando os processos. Vi que seria possível produzir café de uma maneira diferente para atender a um segmento específico e exigente. 

Mudei para Garça no final de 2017 para ficar próximo desse projeto.Foram três anos de estudo para entender o mercado de produção do café de alta qualidade. Eu me envolvi com a Associação dos Produtores de Café Especiais da Região de Garça, trazendo ideias para melhorar os processos de colheita e pós-colheita e a imagem dos nossos cafés. Por fim, consegui o cargo de presidência na Associação.

O mercado de café valoriza muito a procedência do produto, por isso, por meio de um convênio com a Secretaria de Tecnologia e Desenvolvimento do Estado de São Paulo e com o apoio do Sebrae-SP e a Associação dos Produtores, demos início ao processo de Indicação Geográfica.

Essa Indicação vai abranger diversos municípios ao redor da nossa região, que estamos denominando como Microrregião de Garça. Historicamente, o café está em nosso DNA e na nossa fundação como município. Em paralelo, começamos um trabalho para identificar o perfil da nossa bebida, quais são as características únicas do produto da região de Garça. Estamos na terceira edição de um concurso de qualidade. Assim, estimulamos os demais produtores a participarem e elevarem a qualidade do produto.

Em 2018, ganhei o concurso Cereja Descascada por ter produzido o café mais pontuado da região. Mas é muito difícil encontrar mercado para o café especial. Por isso, criei a marca Alta Paulista, e vou fazendo um trabalho de formiguinha em padarias e cafeterias em São Paulo, onde tenho oportunidade de torrar e chegar com meu produto até a xícara. Não vendo só café, vendo uma história, um jeito de produzir. O que levo para o consumidor é uma experiência gastronômica.

Agora surgiu a oportunidade de vender café verde de alta qualidade para microtorrefações. Está acontecendo o Desafio de Torra 2020, com 30 torrefadores selecionados. Eles vão receber cafés de quatro produtores do Brasil, e eu sou um deles. Já consegui um salto este ano: ter meu produto reconhecido junto a torrefações e fazer um comércio justo. Dessa forma, também posso levar o nome de Garça para esse meio. É um projeto longo, mas que venho trabalhando devagar.

Tive contato com o Sebrae em 2017, quando a instituição já promovia alguns eventos para se discutir a Indicação Geográfica de Garça. O Sebrae sempre foi o grande incentivador e promotor dessas ações e deu ainda mais credibilidade e força ao movimento dos produtores. O apoio do Sebrae foi fundamental para chegarmos aonde estamos hoje.”

*Estagiária sob supervisão dos editores

:: Veja o vídeo sobre a história do Cassiano Tosta ::

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