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Pequenos sentem custo alto de insumos e falta de matéria-prima

Com alta no preço e até falta de componentes e matérias-primas, empreendedores precisam segurar repasse e se deparam com prazos maiores
Por Patricia Gonzalez
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A tentativa dos pequenos negócios para voltar aos patamares de faturamento anteriores à pandemia tem sido impactada por um fator muito presente no dia a dia dos brasileiros atualmente. O alto preço dos insumos e mercadorias tem feito os empreendedores assumirem mais custos para não os repassar integralmente ao consumidor. De acordo com a última pesquisa sobre os impactos do coronavírus realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), cerca de 50% dos pequenos negócios consideram os custos de insumos e mercadorias um entrave, em uma lista que envolve outros custos quase que inevitáveis para manter um negócio em funcionamento, como energia elétrica, combustíveis e aluguel.

O consultor de negócios do Sebrae-SP Luiz Alberto Stephan Junior explica que a escassez de insumos e matérias-primas tem provocado impactos tanto para a indústria quanto para o comércio e os serviços em geral, e isso pode ser sentido de forma mais intensa pelas micro e pequenas empresas não só pela elevação dos custos, mas também pelas dificuldades de precificação e de manutenção de margem de lucro. “Muitas empresas foram prejudicadas e tiveram dificuldades financeiras, além de perderem alguns de seus fornecedores. Um exemplo importante é o setor têxtil e de confecções, que perdeu muitas empresas em São Paulo, sem contar as interrupções e quebras de fornecimento de importações”, ressalta.

Leonice Gonçalves é proprietária de uma fábrica que personaliza vidros para grandes varejistas

A empreendedora Leonice Gonçalves, dona da Ma Decor Indústria e Comércio em Vidros, teve seus negócios impactados já no início da pandemia. Diante do novo cenário, foi obrigada a fazer algumas mudanças em seu negócio para tentar manter as portas abertas. A empresa trabalha com pintura de vidros para perfumes, velas, aromatizadores, entre outros, e atende a grandes varejistas. No início da pandemia chegou a ficar quatro meses com seu negócio quase que totalmente parado. E, agora, quando o cenário de restrições está quase no fim, a falta de alguns insumos vem trazendo dificuldades para a sua produção. “Dependemos de sacos plásticos para a embalagem e o preço dele praticamente triplicou. As tintas que usamos são derivadas do petróleo e também subiram muito. De dezembro até agora houve um reajuste de 33%. E já tem previsão de novo aumento de pelo menos mais 15%”, relata.

Por ser um negócio pequeno, a empreendedora explica que eles não têm um grande estoque e sempre que precisam renovar a matéria- -prima encontram um reajuste de preço. A dificuldade em encontrar alguns itens necessários também está prejudicando o prazo de entrega para o cliente. Além disso, algumas adaptações precisaram ser feitas para garantir a entrega. “Trabalhamos com prazos de entrega. Antes eram 20 dias, agora precisa ser de 35 ou até 40 dias. Também começamos a fracionar a entrega para nosso cliente ter o mínimo para abastecer a loja dele. Trocamos o saquinho plástico por papel ou plástico bolha, que é vendida em fardo maior”, diz Leonice.

Para enfrentar a situação de escassez e aumento de preços, a empreendedora precisou alterar também a forma como realiza a cobrança de seus pedidos. “Antes, a gente faturava o pedido e o cliente pagava apenas no final. Costumava faturar para até 60 dias Hoje eu já peço um valor de 30% a 50% de entrada e utilizo esse dinheiro para pagar os insumos”, explica.

Nesse período, a empresária tem investido em cursos e informações para conseguir reduzir a conta de energia e reduzir desperdícios. Entre as ações indicadas pelo Sebrae-SP, Leonice destaca o Programa Brasil Mais, focado em aumentar o faturamento e reduzir custos. “Eu acho que essa questão da matéria-prima ainda vai durar um tempo. Muita coisa está subindo. O petróleo tem grande impacto. Então precisamos aprender a sobreviver com isso”, diz.

FESTA MAIS CARA

A empresária Simone Chemmés é dona da Tem Que Ter Festa e hoje conta com duas lojas na zona sul de São Paulo que vendem artigos para festas em geral e tem como seu carro- -chefe os balões. Entre as principais dificuldades de produtos e insumos para o seu negócio, estão o gás hélio para os balões, pulseiras de led, linhas de materiais feitos em plástico e papelaria. “Estamos garimpando fornecedores. Fui comprar pulseiras de led e me deparei com um aumento de mais de 60%. Pesquisei mais opções e no fim até havia decidido comprar, mas nesse meio tempo o estoque do fornecedor zerou”, recorda.

Com tantos aumentos, a empreendedora reforça o impacto direto em seu faturamento. “Nossa loja tem mais de 20 mil produtos e não tenho como repassar uma porcentagem de aumento tão alta de uma hora para outra ao nosso cliente. Estamos segurando de toda forma que conseguimos”, conta.

Na busca por outros fornecedores, a empreendedora tem se deparado com questões tributárias que está aprendendo a analisar. “Às vezes, nos deparamos com a questão de diferença de alíquota de ICMS entre Estados e precisamos pagar a diferença de um lugar para o outro. Então, por exemplo, se no Paraná a alíquota é menor, quando chega em São Paulo você tem que pagar o imposto. Você acha que vai sair mais barato e, no fim, pode ficar ainda mais caro. É importante estar muito atento a isso também”, aponta Simone.

ALTERNATIVAS 

Para Stephan, do Sebrae-SP, a saída para os pequenos negócios que estão sofrendo com o custo e escassez de insumos é “abrir o jogo” com fornecedores e também insistir na busca por itens substitutos. “Sempre orientamos os empresários a estabelecer e manter um bom relacionamento com seus fornecedores, principalmente aqueles de itens indispensáveis ao seu negócio. Neste momento, percebemos que os fornecedores têm privilegiado seus clientes fiéis e que cumprem com os prazos de pagamento e de programação”, afirma.

O consultor reforça que alguns fabricantes e distribuidores de certos segmentos não estavam aceitando novos cadastros em suas bases até a normalização de fornecimento de componentes e matérias-primas. E, em alguns casos, a substituição de produtos ou serviços pode ser mais complicada. Neste caso, Stephan recomenda a busca de fornecedores em outras regiões, embora o custo maior com frete tenha de ser levado em conta, além da participação em feiras e busca em plataformas de fornecedores e marketplaces, inclusive de importação.

O consultor afirma também que análises feitas em diversos segmentos apontam uma perspectiva de melhora para alguns setores ainda neste ano, mas alguns fatores importantes ainda são uma incógnita. “A variação cambial, as dificuldades financeiras derivadas da baixa atividade econômica nos anos anteriores (2020 e 2021) e a rápida retomada do consumo, principalmente em nosso mercado interno, são pontos-chave para avaliar a situação nos próximos meses”, observa.

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