Há 48 anos, na cidade do Rio de Janeiro, cerca de 1,5 mil lideranças de diversas federações empresariais reunidas na Conferência Nacional das Classes Produtoras, ouviram do então ministro do Planejamento, João Reis Velloso, que estava instituído o Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena Empresa (Cebrae), vinculado ao Ministério, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, precursor do BNDES) e aos Bancos de Desenvolvimento Estaduais O objetivo era levar capacitação e orientação às pequenas e médias empresas, já àquela época peças importantes na sustentabilidade do setor produtivo. Era o embrião do principal sistema de apoio aos empreendimentos de pequeno porte.
De lá para cá, assistimos e provocamos diversas mudanças. As pequenas empresas ganharam visibilidade e sua representatividade foi reconhecida; o empreendedorismo entrou na pauta das políticas públicas, o tratamento diferenciado previsto em Constituição foi regulamentado na Lei Geral das Pequenas Empresas. Mas dois fatos permaneceram intactos nesse período: brasileiros continuaram a chegar até nós com o propósito de empreender e a permanente transformação da entidade para cumprir nossa missão de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e estimular o empreendedorismo.
Neste ano estamos diante do desafio também gigantesco, talvez um dos maiores de nossa história de quase cinco décadas, de apoiar firmemente cada um dos microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas do agronegócio, comércio, indústria e serviços para minimizar os efeitos danosos provocados pela pandemia do coronavírus, bem como de apontar direções que levem à retomada da atividade. No início da pandemia, em março, os pequenos negócios tinham, em média, 10 dias de caixa para se manter em atividade. Pesquisa do Sebrae mostrou que o faturamento desses empreendimentos despencou 70%. Hoje, passados sete meses, a situação ainda é crítica, mas o recuo está na casa dos 40% abaixo do normal. Um otimismo moderado em relação à recuperação da economia e da receita já começa a rondar os empresários e nesse período, mas de 1 milhão de pessoas decidiram abrir uma empresa.
Por isso, a previsão é que o Brasil encerre este ano com 25% de sua população economicamente ativa ligada a alguma atividade empreendedora. São 98,45 milhões de brasileiros que, por necessidade ou por oportunidade, optaram por investir em um negócio como forma de gerar ocupação (inclusive renda própria) e renda. São duas vezes a população da Argentina ou da Coréia do Sul, uma vez e meia as populações do Reino Unido ou da Itália.
Empreendedorismo é nossa paixão, nosso oxigênio, nossa razão de ser. Por isso, o Sebrae respondeu à altura. Em São Paulo, respeitando os protocolos sanitários para salvaguardar vidas, empresas e empregos, incluindo de nossos colaboradores, a instituição trabalhou 100% em home office desde 23 de março, retomando o formato presencial a partir de setembro. Os horários foram ampliados, funcionamos os sete dias da semana – das 7h às 23h de segunda a sexta-feira e das 9h às 17h, sábados, domingos e feriados, realizamos lives diárias com especialistas. Os resultados indicam que estamos no caminho certo: mais de 15 milhões de visualizações e triplicamos o número de consultorias, dobramos o número de participação em cursos.
Mais que mentoria e capacitação, ajudamos o empresário a vender – foco número 1 de nossa atuação neste ano – pelos canais digitais, com plataformas digitais como Pertinho de Casa, resultado da integração e conexão de empresas de tecnologia, empresários e produtores. Criada inicialmente para escoar a produção de hortifrutigranjeiros do cinturão verde de São Paulo, que estava se perdendo pela falta de compradores; hoje abriga mais de 11 mil vendedores cadastrados em todo Brasil e está evoluindo para um marketplace de pequenos negócios. Estimulamos o movimento Compre do Bairro, o Parceiro Compre do Pequeno e diversas outras iniciativas para fortalecer as vendas dos pequenos e fazer a economia circular.
Atuamos junto a gestores públicos e instituições financeiras para facilitar o acesso ao crédito. Em São Paulo, lançamos a iniciativa inédita do Retomada, num processo de solicitação, análise e aprovação de financiamento todo online, operado por fintechs, sem burocracia e sem exigências de bens ou imóveis como garantias. Em apenas 60 dias foram liberados mais de 2 mil contratos, em 284 cidades, num montante de R$ 32 milhões liberados. Obstante não atuarmos como instituição financeira, num movimento excepcional, liberamos R$ 50 milhões de nossos recursos para garantir operações de crédito a Juro Zero e Linha 0,35% do Banco do Povo paulista. E outros R$ 50 milhões para garantir as operações do Pronampe.
Neste ano complexo, em que desafios intricados insistiam em nos levar para uma equação impossível, os resultados acima (e muitos outros) foram viabilizados pela a atuação integrada de todos elos das cadeias que constituem o setor produtivo. Conseguimos que empreendimentos mantivessem as portas abertas e também incentivamos os que encerraram atividades a trilhar novos rumos; conseguimos fazer a diferença e reforçar o significado de empreender: decidir realizar uma tarefa difícil e trabalhosa.
Participo da história desta entidade há mais de 20 anos e para mim é uma honra celebrar, junto com os mais de mil colaboradores do Sebrae-SP, sua história vibrante e seu futuro ainda mais promissor. Porque enquanto e onde tivermos pessoas chegando até nós com seus sonhos de empreender, lá estaremos, levando soluções incríveis. Parabéns SEBRAE.
Tirso Meirelles, Presidente SEBRAE-SP