A busca por comodidade e segurança em tempos de pandemia tem atraído os consumidores para os pequenos negócios de bairro. A impressão de quem vê os mercadinhos e lojas de roupas mais cheios é confirmada por uma pesquisa realizada pelo instituto Kantar em junho deste ano. De acordo com o estudo, entre os novos hábitos, o de evitar aglomerações é um dos quesitos que influenciam o consumidor na hora de escolher a melhor loja para suas compras. Por isso, comprar em estabelecimentos menores e mais próximos de suas residências aparece como opção preferida.
Entre os aspectos mais relevantes que atraem os consumidores aos negócios de bairro estão o fato de ter poucas pessoas no local (60,2%), o comércio ser perto de casa (59,6%),preços acessíveis (53,3%), cumprimento das medidas sanitárias (47,8%)e não ter filas para entrar (44,9%).
Ainda de acordo com a pesquisa,cerca de 74% dos brasileiros dizem que continuarão seguindo essa recomendação para evitar aglomerações mesmo quando a quarentena terminar. Mas, afinal, o que os empresários do comércio de bairro têm sentido e como estão enfrentando a nova realidade?
O empreendedor Marcos Dionísio é dono de diversos pequenos negócios na cidade de São José do Rio Preto. Entre os seus empreendimentos estão padarias, fornecimento de verduras para grandes redes,uma rede de produtos derivados do milho e também um armazém. Todos os estabelecimentos têm mantido faturamento estável, exceto o Armazém Dionísio – cujo faturamento aumentou em cerca de 40% no período de pandemia.
O armazém existe desde 2013 e vende produtos como verduras,legumes e ovos caipiras (produzidos em sua própria fazenda e livres de agrotóxicos), além de bebidas e embutidos. “Não fizemos nenhum tipo de divulgação em rede social ou promoção específica para atrair mais clientes na pandemia. O que mudamos foi o nosso jeito de atender, sempre com distanciamento,dando atenção ao cliente e passando essa sensação de segurança. Sentimos que se a gente não desse essa atenção aos consumidores eles não voltariam mais”, afirma Dionísio.
O dono do armazém relembra que, antes da pandemia, havia percebido uma queda no faturamento do seu negócio. Por isso, ele já havia começado a tomar algumas medidas para reduzir custos, mas as mudanças de hábito provocadas pela Covid19 trouxeram uma nova dinâmica para o negócio. “Comecei a receber muito mais clientes que antes,acredito que pelo receio de aglomerações. E também implementamos o delivery”, conta. A maior parte de sua clientela, – ele estima que 70% a 80% de suas vendas sejam para pessoas que vão até a sua loja.“A gente costuma fazer entrega para um público específico. Tem professores que estão em aula e não podem vir aqui, por exemplo”, diz.
Para atender ao aumento da demanda, Dionísio também precisou reforçar alguns itens do estoque. Entre os mais consumidos pela população local estão os vinhos e embutidos. E, para enfrentar o atual momento, ele também tem
investido no treinamento e capacitação de seus funcionários.
Apesar de considerar que o aumento de suas vendas ocorreu, em parte, pela mudança de cenário, o empreendedor tem estruturado novas formas de se preparar daqui para frente. Sua decisão para os próximos meses é não contar apenas com o acaso. “Acredito que precisaremos aprender a conviver com o vírus. É tudo muito novo, muito incerto. E por isso já estou pensando em alternativas”, afirma. Entre os planos para o futuro,estão a mudança do armazém do bairro atual para um com mais visibilidade para as pessoas, além de abertura de outro que ficará acoplado a uma de suas padarias. Isso ajudaria a reduzir custos e potencializar a clientela de outros estabelecimentos. “Acho que a tendência é que as pessoas ainda fiquem recuadas por pelo menos uns três anos, e quero sempre estar mais próximo de onde elas estão”, afirma o empreendedor.
O consultor de negócios do Sebrae-SP Wilson Borges explica que os negócios de bairro estão entre os principais agentes geradores de renda e de desenvolvimento da região onde estão instalados. “Eles se caracterizam pela proximidade e hospitalidade do empreendedor junto aos seus clientes e promovem as diferentes culturas em um só bairro”, aponta. Mesmo assim, o consultor diz que os donos dessas empresas – geralmente de varejo – devem estar atentos à gestão das finanças e à busca constante de aprimoramento da relação com os consumidores do entorno, investimento em marketing e inovação (leia mais no quadro abaixo)
SUCESSO NO VAREJO
A empreendedora Gabrielle Sequeira, dona da Doces Itaquera,também sentiu o aumento do seu faturamento após o início da pandemia.Sua loja era focada no mercado atacadista para cantinas e bombonieres, mas depois do fechamento de muitos estabelecimentos pelas regras da quarentena em São Paulo, foi no varejo que seu faturamento despontou.
A loja já possuía espaço para vender doces avulsos, mas com a pandemia ela começou a abrir todo o seu estoque para o varejo. A procura cresceu a ponto de a empreendedora conseguir manter o seu faturamento mesmo com a perda dos cientes do atacado. “Tínhamos acabado de aumentar nossa loja em um terço. Com isso, temos mais produtos e agora estamos precisando contratar mais pessoas”, afirma.
Depois de fazer alguns cursos no Sebrae, como o Programa Enfrentar,Gabrielle começou a fazer uma forte divulgação nas redes sociais para tornar-se conhecida na sua região. E também investiu em adaptações na disposição de produtos em seu espaço físico, já que o público do varejo tem preferências diferentes do que ela costumava encontrar no atacado. “Cada vez mais estamos querendo ter contato mais próximo e investindo para criar vínculos com esses clientes”, diz.
DE OLHO NAS OPORTUNIDADES FINANÇAS
O empreendedor precisa estar em dia com a gestão financeira não só em momentos de crise. Isso significa implantar controle de caixa, fluxo de caixa e DRE (demonstrativo do resultado do exercício). Em um primeiro momento pode parecer complicado, mas é muito importante. Assim, é possível avaliar se a empresa está saudável, além de ter a possibilidade de analisar indicadores importantes, como ponto de equilíbrio, margem de lucro, comportamentos de custos variáveis e fixos.
MARKETING
Promova sua empresa. Diante de tanta concorrência, sua dedicação deve ser maior neste momento. Aprenda a tirar boas fotos dos seus produtos, use o storytelling (técnica para contar a história do seu produto ou marca) e crie conexão com o seu cliente. Dedique-se a conhecer as ferramentas digitais de geolocalização, como Google Meu Negócio, Waze e plataformas que promovem o pequeno negócio no bairro.
INOVAÇÃO
Faça diferente! Inovar pode ser colocar na prateleira, no site ou na vitrine um produto totalmente novo ou que ainda não era trabalhado pelo seu negócio, desde que ele gere valor percebido pelo cliente. Você pode inovar no marketing, no modelo de negócio, no processo de produção. Não importa o momento econômico, o cliente gosta de novidades, de descobrir novas soluçõespara suas necessidades.