
São Roque se consolidou ainda mais como referência do enoturismo paulista ao sediar o evento “Vinho e Turismo: Decifrando o Perfil do Consumidor”, promovido pelo Sebrae-SP em parceria com o Conselho de Desenvolvimento da Vitivinicultura da Serra Gaúcha (Consevitis-RS) e o Sindicato da Indústria do Vinho do Rio Grande do Sul (Sindusvinho), no último mês de outubro. Realizado na Associação Comercial de São Roque (ACIA), o encontro reuniu empreendedores, produtores, especialistas e gestores públicos para apresentar dados inéditos sobre o comportamento do consumidor de vinhos no Brasil e discutir ações conjuntas para o fortalecimento do setor.
A programação contou com a presença de Alexandre Martins, gerente regional do Sebrae-SP, que destacou a importância da integração entre vitivinicultura, turismo e economia criativa. “O vinho está diretamente ligado à experiência, à cultura e ao território. Entender o comportamento do consumidor é essencial para que o setor avance de forma sustentável e conectado às novas tendências do turismo e da hospitalidade”, afirmou.
Também participaram Marcela Moro, secretária de Turismo de Jundiaí, e Miriam Souza, diretora de Turismo do município, além de representantes de vinícolas e empreendedores da Rota do Vinho de São Roque e região. O público foi convidado a um coquetel de encerramento com networking, reforçando o clima de celebração e integração entre os participantes.
Consevitis apresenta panorama nacional e parcerias com o Sebrae
Abrindo as apresentações técnicas, Eduardo Piaia, diretor executivo do Consevitis-RS, contextualizou a atuação do conselho, criado para representar os três pilares do setor: produtores de uvas, cooperativas e indústrias vinícolas e destacou o papel estratégico das parcerias com o Sebrae no fortalecimento do vinho brasileiro.
Piaia explicou que o Consevitis coordena projetos voltados à promoção, qualificação técnica e ordenamento setorial, com mais de 28 iniciativas em andamento em parceria com o governo do Rio Grande do Sul, além de campanhas nacionais como “Vai de Vinho Brasileiro”, que busca valorizar a produção nacional frente aos importados. Ele também citou ações voltadas ao público jovem e infantil, como a nova campanha do suco de uva 100%, com as mascotes Isa e Bordô, e o podcast que aproxima o consumidor dos bastidores da vitivinicultura.

Entre os projetos em conjunto com o Sebrae Nacional, Piaia destacou o mapeamento da cadeia vitivinícola, o manual de boas práticas agrícolas, a cartilha de formalização de vinícolas e os programas de inteligência de mercado como o Projeto Comprador e o Projeto Imagem, realizados em São Roque e Jundiaí, que promoveram 104 rodadas de negócios e aproximaram 13 vinícolas paulistas de oito compradores de todo o país. “As parcerias com o Sebrae Nacional e o Sebrae-SP são hoje as nossas maiores vitrines. O trabalho conjunto fortalece o setor e amplia o acesso das vinícolas aos consumidores, qualificando a imagem do vinho brasileiro”, afirmou Piaia.
Pesquisa inédita revela hábitos do consumidor brasileiro de vinho
O momento mais aguardado da noite foi a apresentação da pesquisa “Perfil do Consumidor de Vinhos no Brasil”, desenvolvida pelo Sebrae Nacional em parceria com o Conseb – Conselho Brasileiro de Enoturismo e Bebidas, e com apoio técnico da Concevitis. Conduzido pelo pesquisador Marcelo Souza, do Instituto MDA Pesquisa, o levantamento revela dados inéditos sobre o comportamento e as percepções do público brasileiro em relação ao vinho e ao consumo de bebidas alcoólicas em geral, com o objetivo de subsidiar ações estratégicas de produtores, comerciantes e destinos turísticos ligados ao setor.
De caráter quantitativo e nacional, o estudo foi realizado por meio de entrevistas on-line, com amostragem representativa da população adulta brasileira. Diferentemente de levantamentos tradicionais do setor, a pesquisa não se restringiu aos consumidores de vinho, mas abrangeu também pessoas que consomem bebidas alcoólicas em geral, como cerveja e destilados, permitindo compreender como o vinho se posiciona nesse universo mais amplo de preferências, hábitos e motivações de consumo. Em algumas perguntas, foi possível selecionar mais de uma alternativa de resposta, motivo pelo qual a soma dos percentuais pode ultrapassar 100%.
Os participantes foram organizados em dois grandes grupos:
Consumidores (que bebem vinho, seja regularmente ou ocasionalmente); e
Não consumidores de vinho (mas que consomem outras bebidas alcoólicas).
Essa segmentação possibilitou identificar motivações, barreiras, percepções e oportunidades de aproximação entre o vinho e diferentes perfis de público. Entre os principais objetivos da pesquisa, destacaram-se:
compreender momentos e contextos de consumo (ocasiões, frequência e tipos de vinho);
mapear características demográficas e regionais;
avaliar associações culturais e emocionais com o vinho; e
identificar fatores que influenciam a decisão de compra, como preço, marca, origem e canais de venda.
Os resultados indicam que o vinho é amplamente percebido como uma bebida associada à convivência, relaxamento e experiências gastronômicas, enquanto o turismo do vinho desponta como um campo de crescimento expressivo, sobretudo em destinos que integram hospitalidade, natureza e cultura local, como São Roque.
A análise também mostrou convergência entre o comportamento de compra e o interesse por experiências presenciais, reforçando o papel do enoturismo como um motor de desenvolvimento para regiões produtoras e empreendimentos ligados à cadeia do vinho.
Pesquisa revela perfil e hábitos de consumo de vinho no Brasil
Uma pesquisa inédita sobre o comportamento do consumidor de vinho no Brasil foi apresentada durante o evento “Perfil do Consumidor do Vinho”, promovido pelo Sebrae e pela Associação Comercial e Industrial de Bento Gonçalves (CIC-BG), com apoio da Consebibes-RS. O estudo foi conduzido pelo Instituto MDA Pesquisa, representado pelo pesquisador Marcelo Souza, em parceria com o setor vitivinícola, com o objetivo de compreender melhor os hábitos, preferências e desafios do consumo de bebidas alcoólicas e, dentro deste universo, o papel do vinho.
Metodologia e abordagem
Marcelo explicou que o estudo contou com 1.709 entrevistas on-line, realizadas entre 28 de janeiro e 6 de fevereiro de 2025, com brasileiros maiores de 18 anos que consomem bebidas alcoólicas. A amostra foi ponderada por gênero, idade, renda e região, com base nos parâmetros da pesquisa CISA/Ipec 2023, garantindo representatividade nacional.
O primeiro filtro aplicado excluiu os não consumidores de bebidas alcoólicas. Assim, o estudo focou em quem consome bebidas alcoólicas em geral, e não apenas vinho, o que, segundo o pesquisador, é fundamental para entender o potencial de ampliação do mercado.
A amostra foi ponderada por gênero, idade, renda e região, com base nos parâmetros da pesquisa CISA/Ipec 2023, que traça o perfil dos consumidores de bebidas alcoólicas no país. O objetivo foi garantir representatividade nacional, já que o levantamento online não permite controle total sobre o perfil dos respondentes.
Dentro desse universo, os entrevistados foram divididos em dois grupos:
Grupo 1: pessoas que compraram vinho nos últimos três meses;
Grupo 2: pessoas que não compraram vinho no mesmo período.
Essa divisão permitiu comparar os hábitos, percepções e barreiras de quem já consome vinho e de quem ainda não o incorporou à rotina.
O perfil do consumidor de vinho
Entre os consumidores do Grupo 1, o estudo mostrou que o vinho é uma bebida presente, embora não cotidiana. 52% dos entrevistados afirmaram consumir vinho semanal ou diariamente, enquanto 41% o fazem mensalmente. Mulheres, pessoas com ensino superior e renda mais alta, e moradores das regiões Sul e Sudeste, aparecem com as maiores frequências de consumo.
Em relação à origem dos vinhos consumidos, o Brasil lidera, citado por 72% dos entrevistados, seguido por Chile e Argentina (com resultados equilibrados), Portugal, Itália e França. O consumo de vinhos nacionais é mais expressivo entre consumidores de renda média e baixa; já o de vinhos importados cresce nas faixas de renda mais alta.
Quando se trata do tipo de vinho, o tinto domina amplamente: 89% dos respondentes declararam consumi-lo, seguido pelo branco (43%) e rosé (36%). Entre os tipos de vinho tinto, o suave foi o mais citado (63%), seguido do seco (49%) e do meio seco (28%), o que reforça a predominância de um perfil ainda mais voltado ao sabor adocicado, especialmente entre jovens e consumidores de menor renda.
Marcelo destacou também que o preço médio por garrafa comprada gira em torno de R$ 66, um valor superior à média dos vinhos brasileiros vendidos no mercado, o que reflete a presença significativa de rótulos importados no consumo. Quase metade dos entrevistados (45%) afirmaram comprar vinhos na faixa de R$ 30 a R$ 70, enquanto 24% compram abaixo de R$ 30.
Onde e por que se compra vinho
Os supermercados aparecem como o principal canal de compra (89%), seguidos por lojas especializadas (40%) e compras diretas online (27%). Entre os fatores que mais influenciam a escolha do local, predominam preço, facilidade e variedade. Nas lojas especializadas, a confiança na procedência e autenticidade dos rótulos é o diferencial mais valorizado.
Ao escolher um vinho para ocasiões especiais, os consumidores citam como fatores principais:
-Recomendação de amigos (40%)
-Faixa de preço (37%)
-Reconhecimento da marca (35%)
-Origem do vinho (26%)
O preço aparece como o item mais importante no momento da compra, mas outros fatores, como: tipo de uva, país de origem, premiações e rótulo também exercem influência crescente, especialmente entre consumidores com maior renda e escolaridade.
Entre os principais desafios para consumir mais vinho, estão:
-Preço elevado (52%)
-Preferência por outras bebidas (22%)
-Dificuldade para encontrar boas opções (20%)
-Falta de conhecimento sobre tipos e combinações (20%)
Quem ainda não compra vinho
No Grupo 2, composto por quem não comprou vinho nos últimos três meses, o consumo de outras bebidas alcoólicas é frequente, 60% consomem semanalmente, principalmente cerveja (88%).
Quando se trata de vinho, 71% afirmaram consumir raramente, e apenas 9% mantêm consumo regular.
As principais razões para não consumir vinho com mais frequência são:
-Hábito de preferir outras bebidas (22%)
-Percepção de que o vinho não combina com o estilo de vida (21%)
-Preço elevado (21%)
-Falta de conhecimento ou insegurança na escolha (21%)
Ainda assim, há potencial de conversão: 24% desse grupo consomem vinho ocasionalmente, e 30% afirmaram que comprariam mais se o preço fosse mais acessível.
Campanhas que associem o vinho a momentos cotidianos e descontraídos, além de ações educativas sobre tipos e combinações, são vistas como caminhos para ampliar o consumo.
Percepção sobre o vinho nacional
Quando perguntados sobre a percepção de qualidade dos vinhos brasileiros, 38% consideram que os rótulos do Brasil são iguais ou melhores que os do Chile e da Argentina, enquanto 31% os veem como semelhantes e 17% acreditam que os importados são superiores. Segundo Marcelo, é um indicador positivo, especialmente se comparado a dados anteriores, que mostravam uma percepção mais negativa do vinho nacional.
Os vinhos brasileiros mais citados espontaneamente foram Pérgola, Aurora e Garibaldi, o que evidencia o reconhecimento de marcas tradicionais e de ampla distribuição.
Desafios e oportunidades
Ao encerrar a apresentação, Marcelo Souza ressaltou que o estudo revela um mercado em consolidação, com fortes diferenças regionais e de perfil socioeconômico.
Os principais desafios para o setor são preço, conhecimento e hábito de consumo.
Por outro lado, há oportunidades claras de crescimento por meio de educação do consumidor, vinhos mais acessíveis, degustações guiadas e parcerias com supermercados e restaurantes, que aproximem o vinho da rotina do brasileiro.
“Muitos consumidores ainda não se sentem confortáveis para escolher um vinho. Ampliar o conhecimento e associar o vinho a momentos cotidianos são caminhos para fortalecer o mercado e o produto nacional”, destacou Marcelo.
São Roque reforça protagonismo no enoturismo paulista
Encerrando o evento, Marcela Moro, secretária de Turismo de Jundiaí, ressaltou a importância da integração entre os polos de enoturismo de São Paulo e o intercâmbio com regiões tradicionais do Sul do país. “Temos histórias e identidades diferentes, mas compartilhamos o mesmo propósito: fortalecer o vinho brasileiro e o turismo de experiência”, destacou.
O encontro foi encerrado com um coquetel de confraternização, reunindo produtores, gestores públicos e parceiros institucionais em um ambiente de networking e celebração do setor.
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