
Decidir qual carreira seguir pode ser um desafio. Ainda na infância, a questão sobre “o que vai ser quando crescer” é frequente. Entre astronautas e princesas, algumas crianças já estão bem decididas sobre o que querem para o futuro. É o caso de Gustavo José Mandro, de 8 anos, morador da zona rural de Piracicaba, que se tornou um “empreendedor mirim” ao criar galinhas, vender os ovos e reinvestir o lucro para expandir seu “negócio”. O que começou como uma brincadeira o levou a planejar um futuro na área.
Gustavo é aluno do 3º ano da Escola Municipal Professor Manoel Rodrigues Lourenço, na zona rural de Piracicaba. Ele participa do programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP), do Sebrae-SP, que leva conteúdos e práticas que estimulam o protagonismo e contribuem para o desenvolvimento das crianças.
Embora faça parte do programa, a iniciativa empreendedora vem bem antes disso – desde que tinha dois anos. Nessa época, ele ganhou a primeira galinha da família. A quantidade foi aumentando com o tempo e os avós, que já vendiam os ovos da própria criação, começaram a vender os das galinhas do neto. O menino, então, passou a juntar cada vez mais dinheiro e reinvestir os valores para comprar aves de raças diferentes, realizar melhorias no galinheiro e alimentar os animais.

Hoje, ele tem uma “sociedade” com a irmã mais nova e a avó – que também ajudam a cuidar dos animais. “Eu gosto muito. Eu vendo para vizinhos, parentes, professores, coordenadora, diretora… Eu ofereço os ovos e agora já tenho até encomendas”, conta. Quando fala sobre os planos para o futuro, Gustavo afirma que pretende continuar com sua criação, mas sem deixar os estudos de lado: “Quero ser agrônomo, estudar na Esalq [Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz].”
Para isso, ele já começou a pesquisar e aprender tudo sobre a área em que quer atuar. Mesmo tão novo, ele já sabe as raças das galinhas que tem, as que quer ter, e as diferenças entre cada uma delas. Também ajuda a preparar a alimentação delas e pesquisa sobre variações de preços, que impactam na ração e, em consequência, no preço dos ovos. “Eu aprendo com meu avô e minha avó e no Google”, explica.
Brincadeira de criança
Hoje, aos quase 9 anos de idade, Gustavo tem cerca de 80 aves de 23 raças diferentes. Uma criação impressionante e que mostra a sua dedicação aos animais. Boa parte desses, ele nomeia em homenagem às pessoas que convive: “Ou elas pedem ou eu coloco para provocar, e aí vira uma brincadeira. Tem a Adriana [diretora da escola], tem minha prima, minha irmã.”
“É natural, porque a gente mora no sítio. Ele nasceu no meio e foi gostando cada vez mais. Ele sai com o avô, que compra porco, galinha, bezerro… E até negocia junto”, conta a mãe, Dayane Cristina Nascimento Mandro. Ela incentiva a veia empreendedora do filho, mas sempre reforça a importância de estudar e, claro, continuar brincando como toda criança. “No celular, o jogo que ele gosta é de maquinário, de trator, de fazenda… E de brincar de fazendinha com a irmã e jogar futebol com o avô.”

E a rotina dele é cheia: “Cada coisa tem um tempo para ser feita. De manhã eu vou na escola. Quando eu chego em casa, descanso. Depois eu faço a lição, brinco com minha avó ou jogo bola com meu avô. Aí nós tratamos a criação.” Além das galinhas, ele ajuda os avós a cuidarem dos outros animais do sítio.
Gustavo leva sua rotina a sério e se dedica muito, para que no futuro possa realizar seu desejo de ser engenheiro agrônomo. Para além da graduação, ele já planeja o que vai fazer depois de formado: “Quero trabalhar com cana-de-açúcar. Vou ficar um ano trabalhando na cooperativa. Depois eu vou para o Mato Grosso, quero ficar uns cinco anos lá e depois ir para os Estados Unidos. Lá as máquinas são mais automatizadas, para trabalhar na agricultura eu prefiro lá”, completa.
Jovens Empreendedores Primeiros Passos
O programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP), do Sebrae, leva gratuitamente para as crianças e adolescentes conteúdos e práticas por meio do ensino do empreendedorismo, que estimulam o protagonismo e contribuem para o desenvolvimento. Segundo a analista de negócios do Sebrae-SP, Vivian Lourenço, o intuito é acrescentar à formação já oferecida nas escolas, ajudando a preparar crianças e jovens para a vida.
Em Piracicaba, são 41 escolas que aderiram ao programa, com 10,3 mil alunos ao todo. A Escola Municipal Professor Manoel Rodrigues Lourenço, onde Gustavo estuda, é uma delas. Ele já participou do JEPP em 2023 e agora em 2025. “Aprendi sobre empreendedorismo e sobre brinquedos de materiais recicláveis”, conta.

“Ao longo das aulas, as crianças têm a experiência de vivenciar os comportamentos empreendedores, confeccionar produtos ou elaborar um projeto e realizar a Feira do JEPP, que é o momento de apresentar todo o trabalho realizado”, explica Vivian. “Com a história do Gustavo nós vemos a importância de cada vez mais incentivar que as crianças sejam protagonistas das próprias histórias, tenham independência, autoconfiança e comprometimento”, completa.
A Feira do JEPP na escola onde Gustavo estuda foi no dia 27 de setembro e, na ocasião, ele teve um espaço separado para que pudesse apresentar sua história para a comunidade escolar, com cartazes e fotos. “Ele sempre foi comunicativo, mas ele está mais confiante depois da feira, mais seguro. Ele quer contar para os outros sobre a criação, falar o que gosta de fazer… A gente tornar isso importante fez a diferença”, afirma a diretora da escola, Adriana Vargas Mendes Janousek.
