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A consciência negra que empodera os pequenos negócios

Empreendedores negros no Brasil crescem nos últimos 10 anos
Por Redação
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Ariadna da Mata Chagas Nascimento, fundadora da NegritaArteira.

Nos últimos 10 anos (2013-2023), o número de empreendedores negros no Brasil cresceu 22%, superando a performance dos donos de pequenos negócios brancos, que registraram uma alta de 18%. Segundo estudo realizado pelo Sebrae com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), em 2013 existiam 12,8 milhões de pessoas negras donas de negócios e 11,7 milhões de pessoas brancas, saltando, em 2023, para 15,6 milhões e 13,8 milhões, respectivamente. Esse aumento permitiu que, nesse período analisado, a diferença entre pessoas empreendedoras pretas e pardas, em relação às brancas, aumentasse de 1,1 milhão para 1,8 milhão.

Os dados revelam, ainda, que a proporção de empreendedores negros, quando comparada com o universo da população brasileira de pessoas pretas e pardas, passou de 15,3% para 15,9%, de 2013 para 2023. Ou seja, no último trimestre do ano passado foram contabilizados 15,6 milhões de empresários negros num universo de 98,4 milhões de pessoas negras no país com mais de 14 anos – em 2013, essa proporção era de 12,8 milhões em um universo de 83,6 milhões.

Ariadna da Mata Chagas Nascimento, 37 anos, é uma dessas empreendedoras. Fundadora da marca Negrita Arteira, de São José dos Campos, sabe muito bem qual é o seu propósito: levar empoderamento e representatividade às pessoas negras e representação positiva para as crianças não negras. “A Negrita Arteira surgiu em 2010 com o intuito de trazer mais representatividade para os brinquedos, especificamente bonecas negras. Ela é um empreendimento sociocultural e, através das bonecas, workshops e oficinas, busca trazer essa representatividade para as crianças”, conta.

A empreendedora diz ainda que, a partir do seu trabalho, as crianças negras se sentem empoderadas, com mais autoestima e passam a gostar ainda mais da própria imagem. “E as crianças não negras aprendem a respeitar os amiguinhos como eles são. Eu tive a oportunidade de ter algumas experiências e o interessante é que a Negrita Arteira surgiu para fazer um diálogo com as crianças. Porém, atualmente, conseguimos dialogar com adultos, que também foram crianças e não tiveram essa representatividade. Eles nos dão feedbacks de que se sentem representados e, por isso, compram as bonecas para as crianças.”

Ariadna reforça que as bonecas são um veículo para tudo o que ela quer mostrar e a diferença que busca trazer ao mundo. “Cada vez que eu vendo as bonecas, que são o meu trabalho, consigo espalhar a mensagem da Negrita Arteira, de representatividade e autoestima.”

Feira do Empreendedor 

A artesã participou pela primeira vez da Feira do Empreendedor esse ano, no Espaço Afro, dentro do Shopping Compre do Pequeno. “Eu já tinha vivenciado outras atividades, como Sebrae Delas, Up Digital, Fotos para Redes Sociais e demais capacitações. Já estive até no programa Pequenas Empresas Grandes Negócios. E decidi participar da Feira porque confio nas ações do Sebrae e sabia que seria uma ótima oportunidade de ganhos. Me refiro ao financeiro e às oportunidades de parcerias, de conhecimento, de fortalecimento e divulgação da minha marca e, principalmente, de networking em todos os sentidos da palavra. Estar no evento me trouxe excelentes oportunidades de negócios.”

Ela cita ainda a oportunidade da experiência sensorial e presencial com os produtos da marca Negrita Arteira junto ao público do evento. “Por ser meu primeiro ano, o objetivo principal era vender, mas também que as pessoas pudessem conhecer a minha marca e o meu empreendimento, bem como poder espalhar a mensagem da Negrita Arteira para o mundo.”

Desafios  

Empreender é desafiador e Ariadna conta que hoje busca conseguir uma linha de crédito. “Além disso, particularmente, como o meu produto é bem nichado e se trata de bonecas negras, tenho dificuldade de conseguir tecidos que representam os vários tons de pele. Tem ainda a questão de a sociedade desvalorizar o que pertence à cultura negra. Por isso, eu trago muita qualidade para o meu produto e, mesmo assim, preciso provar para as pessoas o quanto eu sou profissional e o quanto o produto é bom. Isso está atrelado ao reconhecimento da imagem”, afirma.

Ela ressalta que o artesanato é visto como algo de menor valor. “Quando o Sebrae traz o artesanato em um acontecimento com essa estrutura, é para que as pessoas possam ver o quão valiosas são as manualidades. É uma forma de evidenciar o trabalho de cada uma das pessoas que estão aqui”, conclui.

Instagram: @negritaarteira

Superação e construção de sonhos 

Desde pequeno o arquiteto e urbanista Marcos Nunes Pereira, 56 anos, sabia que teria um negócio próprio. Filho de uma artesã que criava peças em pergaminho e de um mecânico de automóveis, o empreendedor abriu a sua primeira empresa, a Micro Design Informática, prestadora de serviços no segmento de tecnologia, aos 26 anos. Ao longo dessa jornada, superou obstáculos e conseguiu conquistar o seu espaço no mercado profissional. “Ser empreendedor negro é um desafio, mesmo sendo um país predominante de negros ou pardos, visto que no último censo de 2022, 55% da população brasileira se identificou como preta ou parda, nós negros ou pretos temos que ser sempre o melhor, então estudar, ser ético, honesto, responsável é um fator que contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional, somente assim é possível conquistar cada vez mais clientes”, reflete.

Marcos Nunes Pereira (foto: acervo pessoal)

Após um período de instabilidade na carreira, Marcos conta que procurou o Sebrae-SP em busca de auxílio e “foi amor à primeira vista”, brinca. Com o suporte em consultorias e o apoio da entidade, o empreendedor deu a volta por cima ao conseguir administrar o próprio escritório, a Sênior Arquitetura e Design. “Como arquiteto, realizo projetos de residências de médio e alto padrão, além de projetos comerciais que se traduzem na felicidade dos clientes em ver seus sonhos realizados”, finaliza.

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