“Ganhar a vida porque os empregos são escassos” e “fazer a diferença no mundo” são as principais motivações que levam o empreendedor negro a iniciar um negócio no Brasil, segundo pesquisa do Sebrae. Em Araçatuba, empreendedores negros têm em comum a vontade de crescer e deixar um legado para as próximas gerações.
Com uma cara mais jovem, melhor renda e consciência de que podem ser grandes, donos de negócios de diferentes setores da cidade contaram como suas empresas foram abertas e o que esperam do futuro.
Murilo Dias, 36 anos, proprietário do Café do Preto, quando criança observou a necessidade de alguns vizinhos e, junto com amigos, começou a capinar quintais. Desde então, sempre deu um jeito de trabalhar e conquistar seus sonhos, por meio do esforço. Começou seu negócio atual em 2019 em uma academia de cross fit e, desde então, tem crescido a cada ano.
Entre suas maiores dificuldades no empreendedorismo, se deparou com o descrédito, julgamentos e poucas mãos estendidas. “Algo que é muito difícil para um negro são os olhares, as caras que fazem. Várias pessoas perguntam: mas quem é o proprietário? “Você é dono de tudo isso?”. Mesmo assim, Murilo segue com foco no futuro. “Ainda é o começo. Quero que a marca seja algo passado de pai para filho a longo prazo”.
Atualmente, existem mais de 15,6 milhões de negros donos do próprio negócio no Brasil, representando aproximadamente 52,4% do total de empreendedores no país, de acordo com a pesquisa O novo retrato do negro empreendedor brasileiro do Sebrae, baseada em dados da Pnad Contínua do IBGE.
Liliane Contard se formou cabeleireira há 17 anos. Sua paixão sempre foi trabalhar com os cabelos. Quando iniciou a pandemia, ela passou pela transição capilar e se viu em um dilema que era não saber cuidar dos próprios cabelos. Como estava desempregada, viu no momento uma ótima oportunidade de fazer o que mais gostava. “Fui me especializando em cabelos com curvaturas para atender as pessoas que tinham as mesmas dores que eu, que era não saber cuidar dos cabelos.”
Por não ser conhecida como cabeleireira especialista em curvaturas, não tinha credibilidade naquela época. “Fiz muitos cabelos de graça para as pessoas com o intuito de montar meu portfólio e postar no Instagram e no Facebook para as pessoas poderem conhecer meu negócio. Ou eu divulgava meu trabalho e tentava conseguir clientes, ou eu não trabalhava”.
Para Liliane, ser uma mulher preta empreendedora é um desafio e uma conquista, porque o preconceito ainda existe e está muito presente em nossa sociedade. “Tem pessoas que acham que você, por ser negra e ter o cabelo crespo, não vai saber cuidar de um cabelo liso ou ondulado. Tem muitas pessoas que acham que, como preta e como mulher, não se pode ter um salário melhor, não pode ter uma condição de vida melhor. Tem pessoas que se assustam, quando eu digo que minha filha estuda em escola particular”.
Para o futuro, a cabeleireira quer dar melhores condições de vida para sua filha para que ela possa se formar e conquistar tudo o que ela almeja na vida dela. “O fundamental é continuar estudando. Pois o conhecimento ninguém tira de você”.
Segundo a pesquisa do Sebrae, no Estado de São Paulo, 16,2% da população negra com mais de 14 anos são donos de negócios.
Os irmãos Guilherme, Rafael e Luiz Fernando Marques, se reuniram para abrir uma loja masculina com o nome de Melanina. Por ser uma família agregadora e conhecida, decidiram investir em um espaço onde poderiam reunir um público que gosta de se vestir bem, é apaixonado por futebol e ainda fã do pagode.
Guilherme conta que puxou a fila. Trabalhou durante sete anos em uma loja e já tinha uma carteira de clientes. Um dos irmãos tinha um grupo de pagode e o terceiro irmão foi jogador de futebol assim como o pai. “O mais famoso entre nós é meu pai. Ele foi treinador de futebol, o Sr. Waldir, mais conhecido como Dila”.
O sonho de empreender começou com uma loja de bairro. Mesmo com as dificuldades de estabelecer o negócio, conseguiram crescer com os anos e ir para um dos shoppings da cidade. Hoje, comemoram a chegada da loja no centro de Araçatuba. “Esse foi um crescimento pela nossa força, pelo que acreditamos. Crescemos muito nossa visão de empreendedores. Alguns métodos que não usávamos antes, hoje agregamos ao negócio e isso fez com que pudéssemos crescer emocional e mentalmente”, conta Guilherme.
Para crescer ainda mais, ele diz que os próximos passos são buscar mais capacitações, incluindo o Empretec, treinamento do Sebrae-SP com foco no desenvolvimento do comportamento empreendedor.