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Empreendedores retornam com ideias renovadas

Duas em cada três empresas que conseguiram passar pela pandemia mudaram sua forma de atuar – e algumas estão conseguindo obter resultados ainda melhores
Por Patricia Gonzalez
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Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 no País e perspectiva de melhora das atividades econômicas, muitos empreendedores que sofreram para manter as portas abertas – ou mesmo que tiveram de fechar seu negócio – nos últimos dois anos estão de volta ao balcão. Alguns até mesmo aproveitaram para mudar o rumo dos negócios e passaram a atuar em outra área.

De acordo com a 13º edição da pesquisa “Os Impactos do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), 86% das empresas já conseguiram retomar a sua operação. Mas apenas 31% atuam da mesma forma que antes – ou seja, praticamente duas em cada três mudaram sua forma de atuar.

É o caso da empreendedora Neia Borges, dona de uma loja de calçados no centro de Biritiba Mirim há 28 anos. Antes da pandemia, a Neia Calçados ocupava um espaço de cerca de 300 metros quadrados. Em março de 2020, precisou fechar o estabelecimento, que foi reaberto somente em dezembro de 2021 – desta vez com metade da metragem. “No início eu sofri muito. Fiquei vivendo do dinheiro que tinha guardado, com o mínimo para sobreviver. O faturamento foi a zero. Na época, resolvi me dedicar ao campo”, conta.

Neia começou a fazer algumas reformas na chácara que havia comprado ao longo de sua jornada no comércio. Ela também aproveitou para fazer melhorias em seu estabelecimento. Com as portas fechadas, precisou demitir os sete funcionários e começou a montar alguns kits com os produtos da loja para mostrar aos amigos e vender em algumas casas. “Mesmo quando autorizaram abrir a loja, eu optei por não abrir. Os horários eram reduzidos e os clientes não apareciam. A cidade não tinha movimento. Era muito desgastante”, diz.

Quando estava no campo, Neia colocava a mão na massa. Plantava, aparava a grama, cuidava dos cavalos. E essa dedicação acabou rendendo a ela a ideia de um novo negócio: receber hóspedes em sua chácara. Como as obras já estavam acontecendo, ela conseguiu dar início ao novo negócio em abril do ano passado.

“Com a paralisação das atividades da loja, eu consegui investir meu tempo lá. Coisa que eu nunca havia feito, pois trabalhava muito. Hoje eu tenho certeza de que foi a melhor jogada que eu fiz”, comemora.

Atualmente, o faturamento da pousada é maior que o da loja. Ela mantém os dois negócios girando com a ajuda da família. “Meu filho está tocando a loja com meu pai, um senhor de 74 anos, e mais uma funcionária. Eu apareço lá duas vezes por semana e o restante do tempo fico na chácara”, conta.

O empreendimento de hospedagem cresceu somente com o boca a boca e a procura foi alta desde o começo. Ela já tem pedidos de reservas inclusive para o Natal e réveillon deste ano. “Eu ainda estou aprendendo muita coisa. Agora estou descobrindo que eu posso agregar valor ao meu negócio com brinquedos infláveis e bebidas. Não vou ficar só na locação”, planeja.

Como uma boa empresária com tino para negócios, Neia ainda consegue vender os produtos de sua loja para os hóspedes da chácara. Segundo ela, é comum a procura dos hóspedes por chinelos ou casos de pais que esqueceram tênis para os filhos, por exemplo. “Estou conseguindo manter um bom faturamento. Meus negócios estão gerando renda e também já proporcionaram empregos. Estou muito satisfeita com essa retomada e espero que o ano seja de crescimento e expansão. Eu me reinventei e sempre falo para todo mundo que vale acreditar e ir atrás”, afirma.

SAÍDAS

Apesar do cenário ainda incerto, os empreendedores têm se mostrado, em geral, mais otimistas com seus negócios para 2022. A consultora de negócios do Sebrae-SP Monica Lemes ressalta que no atual momento, é importante que os empreendedores estejam atentos ao comportamento de seus clientes para oferecer o melhor serviço. “O olhar para as pessoas deve acontecer a cada dia, tanto para clientes internos como externos. Também é importante implantar um processo de relacionamento com clientes. Todos estão inseguros com a economia e os reflexos da pandemia. Eles querem ser ouvidos, precisam de acolhimento”, diz.

Outro empreendedor que conseguiu retomar as atividades depois de transformar o jeito de atuar é Junior Rangel, do Grupo Vira Festa. A empresa, que começou em 2005 voltada para festas de aniversário, atuava desde 2007 no segmento de marketing promocional para grandes empresas. No início de 2020, já estavam prontos para celebrar os 15 anos de empresa – com reformulação do site e redes socais e investimento em uma nova logomarca – quando começaram os primeiros cancelamentos. “O foco do nosso trabalho sempre foi criar ações de encantamento com ideias lúdicas para promover produtos e serviços, conectando as pessoas com as marcas. É um trabalho que exige muito do presencial”, explica.

Nos primeiros meses da pandemia, conseguiram manter a equipe e a estrutura com o caixa que tinham disponível. Mas, em agosto de 2020, não teve jeito: o empreendedor precisou fechar o escritório, localizado na zona leste da Capital.

Durante algum tempo, continuaram realizando lives sem nenhum retorno financeiro, apenas para manter sua marca na memória dos clientes. Ainda sem muita perspectiva sobre quando as atividades poderiam voltar, o empreendedor começou a participar de outras iniciativas para garantir a sobrevivência do negócio: apresentações drive-in (aquelas feitas em estacionamento, com o público dentro dos carros), ações de endomarketing e também para o atacarejo, com muitas lojas no Brás. “Usamos o grande acervo que já tínhamos e também conseguimos manter alguns funcionários com as regras das Medidas Provisórias que foram lançadas na época”, diz Rangel.

O ano de 2021 começou um pouco melhor, pois a empresa já tinha conseguido alguma renda com essas ações paralelas. E, no fim do último ano, o faturamento da empresa já superava o de antes da pandemia. “A partir de junho já sentimos que as empresas voltaram a nos procurar. E continuamos também com as ações para o atacarejo. Para quem está retomando o negócio agora, a dica é não esquecer tudo que aprendemos na pandemia. Aqui as coisas funcionavam de forma automática, fazíamos tudo do mesmo jeito todos os dias. A pandemia foi sofrida, mas trouxe a lição de que podemos nos permitir errar”, afirma.

Também da área de eventos – uma das mais prejudicadas pela pandemia –, o empreendedor Fabio Vieira, que há 24 anos atua como locutor e apresentador e também tem uma empresa de celebração de casamentos em São Bernardo do Campo, viu seu faturamento chegar a zero em 2020. Foi quando começou a fazer participações em programas de rádio e TV com seu trabalho de locução e, em paralelo, abriu uma hamburgueria para diversificar sua receita.

O aquecimento do mercado de eventos, segundo ele, começou no último trimestre de 2021 e parece não dar sinais de que vai diminuir. Ano passado foi o ano que mais trabalhei na vida. E, para 2022, a demanda está aquecida principalmente para casamentos, que sempre foram a minha principal fonte de renda. Acho que este ano será maravilhoso”, comemora.

ESTRATÉGIA PARA A RETOMADA

Alguns pontos-chave para ficar atento nesse período

Controles financeiros: Fique de olho no caixa; é fundamental estar atento e buscar soluções para reduzir custos e aumentar faturamento.

Inovação: Inovar está no detalhe; uma simples mudança no PDV, aplicar as ferramentas de visual merchandising para oferecer um ponto de venda mais atraente e moderno ou inovar na embalagem são alguns exemplos do que pode ser feito.

Marketing digital: O digital veio para ficar. É imprescindível estar presente em diversos canais, ser omnichannel. Investigue por qual canal seu cliente quer comprar, com praticidade, agilidade e conveniência. Loja virtual, aplicativo,
marketplace, redes sociais, televendas, lojas físicas — o consumidor tem cada dia mais opções para comprar e se conectar com as marcas.

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